Especialista do Facebook dá aula a 200 políticos


Em Brasília, Katie Harbath ensina pré-candidatos regras que poderiam transformar seguidores em eleitores

CATARINA ALENCASTRO - O GLOBO

De olho numa multidão de 83 milhões de eleitores que se concentram num mesmo lugar, os políticos brasileiros querem usar e abusar do instrumento que, segundo especialistas, será o grande veículo de comunicação das próximas eleições: o Facebook. Dispostos a aprender táticas que possam ajudá-los a converter seguidores em votos, os pré-candidatos têm procurado gerentes da rede para montar verdadeiros bunkers virtuais. Nessa semana, Katie Harbath, especialista global do Facebook para campanhas políticas, esteve em Brasília e fez, em Brasília, o primeiro treinamento para políticos e assessores. Foram mais de 200.

— A maioria dos candidatos já tem perfil no Facebook. O Brasil tem 83 milhões de usuários. E o Facebook é o lugar onde os eleitores estão. Será a ferramenta-chave dessas eleições, e os candidatos têm consciência disso — disse Katie ao GLOBO.

Dos usuários brasileiros, 52 milhões entram na rede social diariamente. A maior parte é jovem: 54% têm entre 15 e 34 anos, e uma ligeira maioria (50,6%) é de homens. O Facebook identificou que seu público está altamente interessado em discutir política. Mais do que baladas ou fofocas do dia a dia, esse foi o segundo tema mais tratado na rede em 2013, atrás do Papa Francisco.

— Conversas políticas estão acontecendo intensamente na plataforma. Há interesse dos usuários em falar, saber o que seus representantes têm feito, se aproximar deles — afirmou Bruno Magrani, diretor de relações institucionais do Facebook.

A rede ensina, por exemplo, que, no Brasil, o usuário acessa o site entre 8h e 23h, então este é um bom horário para postar. Além disso, as publicações com fotos rendem mais curtidas e compartilhamentos do que as que só têm texto. Entre os usuários brasileiros, 82% curtem fotos postadas por amigos. Outra dica é que os internautas respondem bem a imagens e notícias de bastidor.

Outra boa prática é aproveitar o potencial interativo que o meio oferece, perguntando a opinião dos seguidores sobre o assunto de um post. Os selfies de políticos sozinhos ou com amigos, aliados ou familiares também são bastante populares entre os internautas, que gostam de ver registros descontraídos de seus representantes.

— Eles querem ver o político de gravata afrouxada e mangas arregaçadas — diz Magrani.

Novas ferramentas estão disponíveis e deverão ser usadas nessas eleições. Uma delas é o face to face: bate-papo ao vivo em que candidatos podem responder a perguntas em tempo real. Nos Estados Unidos, foi usada amplamente, diz Harbath. Lá, candidatos rivais têm organizado até debates.

Entrevista

Responsável por orientar auxiliares do governo e candidatos em como maximizar o potencial do Facebook, a americana Katie Harbath tem no currículo o fato de ter dirigido a estratégia digital do comitê republicano na campanha de 2010 para o Senado dos Estados Unidos. Como executiva do Facebook desde 2011, ela viaja o mundo todo falando com os partidos e promovendo treinamentos.

Como é o trabalho de treinar candidatos e suas equipes sobre o Facebook no Brasil?

O Brasil tem 83 milhões de usuários acessando o site pelo menos uma vez ao mês. Toda essa gente está conversando entre si. O Facebook é uma forma incrível para os candidatos mostrarem quem eles são como indivíduos. Mostrar que têm uma família, que têm hobbies. Os internautas querem se conectar com pessoas que se parecem com eles.

E como foi a resposta dos participantes do treinamento?

Foi tremenda. Este ano será o ano da eleição nas redes sociais. É aqui que os eleitores estão. E os candidatos estão bem conscientes disso.

Que dicas a senhora dá para o candidato que quer melhorar o engajamento dos usuários em suas páginas?

Recomendamos que ele poste em tempo real, que poste fotos de bastidor, daquele momento antes de ele fazer o comício, enquanto se prepara. E que também publique textos relacionados aos assuntos que as pessoas estão debatendo no site. Se estão falando sobre a Copa, que entre no assunto e poste sobre isso. Também recomendamos que o candidato pergunte a opinião de seus seguidores sobre todas as questões. As pessoas gostam de se sentir parte do processo que irá afetá-las. A relação (com o candidato) muda quando os fãs se dão conta de que do outro lado há uma pessoa normal, como eles.

Como o Facebook será usado nas campanhas?

No Brasil, tudo é possível. Mas acredito que, como nos Estados Unidos, o face to face será uma ferramenta interessante também por aqui. Certamente grandes debates serão travados no Facebook durante a campanha. As pessoas estão bastante interessadas no Facebook.



Comentários