Abrigos de ônibus instalados na periferia são inferiores aos de regiões nobres em São Paulo


O estilo 'brutalista leve' não aparece nem no site da concessionária, mas já foi adotado em 154 pontos de ônibus de áreas distantes da capital paulista


Caio do Valle - O Estado de S. Paulo



José Patrício/Estadão
Abrigo na Estrada de Itapecerica: empresa diz que contrato permite variações

A periferia de São Paulo está ganhando novos abrigos de ônibus. Só que os equipamentos são mais rústicos e menos equipados do que os instalados pela concessionária Otima na região central. Essas estruturas – até agora foram montadas 154 – não se encaixam em nenhum dos modelos apresentados na licitação de 2012. Os passageiros falam em abrigo “quebra-galho”.

A Otima se defende, alegando que o termo de referência do contrato permite “variações”. Entretanto, no site da empresa e no da São Paulo Obras (SPObras), órgão municipal responsável pelo gerenciamento da concessão, nunca foram divulgadas imagens e projetos semelhantes ao que se vê nas Avenidas Sapopemba e Rio das Pedras, na zona leste. Já a SPObras alega que foi necessário substituir rapidamente equipamentos em situação precária.

Só quatro tipos de cobertura são apresentados ao público que acessa a página da Otima na internet. Todos são mais encorpados e com acabamento melhor. Cada um tem um nome: “caos estruturado” (visto na Avenida Sumaré, zona oeste), “brutalista” (na Bandeirantes), “minimalista com ginga” (na Paulista) e “high-tech” (ainda ausente das ruas). O que vem sendo instalado nos bairros mais distantes é o que a concessionária batizou de “brutalista leve”, uma versão enxuta.

Na Estrada de Itapecerica, no Capão Redondo, a reportagem achou três desses equipamentos. A vendedora Maria de Fátima Santos Inês, de 59 anos, pega ônibus sempre por ali. “Achei muito esculachado, um quebra-galho. Eles vieram e colocaram este porque é periferia, devem ter pensado ‘aqui ninguém vai reclamar mesmo’. Os pontos da Vila Mariana são mais bonitos.”

Assistente de manutenção de elevadores, José do Egito, de 50 anos, concorda. “Creio que isso caracteriza discriminação contra a população da periferia.” O abrigo, atrás da Estação Capão Redondo do Metrô, tem bancos de concreto e placas de vidro laterais, para proteger da chuva. Uma delas ainda estava no chão, com fita amarela da São Paulo Transporte (SPTrans).

Situação pior enfrentava na quinta-feira quem esperava o ônibus no novo abrigo da Rua Ari da Rocha Miranda, na Jova Rural, zona norte. Assim como o de Capão Redondo, foi instalado no início de janeiro. Mas não tem nenhuma proteção de vidro. “Deveria ter. Os pontos lá da Sé tem vidro. Ainda assim, é melhor que o abrigo anterior”, comentou o lavador de carros Luis Fernando Milani, de 53 anos. As estruturas anteriores, também de concreto, não tinham assento, como a atual.

Até o teto dos abrigos periféricos difere dos demais. Ele é de material plástico totalmente opaco. Em nenhum dos abrigos visitados pela reportagem havia peças publicitárias, como as existentes nas estruturas da região central. Nem a empresa da Prefeitura nem a Otima divulgaram os custos unitários do ponto “brutalista leve”.

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