Nefasta decisão
Deputados tucanos repudiaram a medida adotada pelo Ministério da Saúde e demonstraram apoio à ação do Conselho Federal de Medicina (CFM), que decidiu recorrer à Justiça contra a decisão. Representantes das sociedades de radiologia, ginecologia e mastologia dizem ainda que a portaria contraria lei de 2008 que assegura, pelo SUS, mamografia para mulheres a partir de 40 anos.
“Essa portaria do governo federal provoca um retrocesso na liberação de procedimentos, como a mamografia, que asseguram a detecção e o tratamento dos cânceres de mama e de colo de útero, pelo sistema público, em prejuízo de uma parcela significativa de mulheres. A presidente Dilma joga no lixo a conquista de uma luta histórica de milhares de pacientes. Vamos entrar com uma Adin para suspender os efeitos dessa nefasta decisão”, anunciou o líder tucano em sua página no Facebook.
Com a nova regra, o governo federal diminuiu o repasse de verbas da União aos municípios para realização do exame, restringindo a ação aos testes feitos pelas pacientes entre 50 e 69 anos. No entendimento de entidades como o CFM, a Portaria nº 1.253/13 estabelece que os municípios realizem um procedimento condenável: a meia mamografia, denominada mamografia unilateral. Caso os municípios queiram, terão a opção de arcar sozinhos com o custeio do exame para mulheres com até 49 anos – podendo remunerar somente a mamografia unilateral (de um só seio), método nada eficiente na prevenção do câncer de mama.
“Meia mamografia? Isso não pode ser sério. Daqui a pouco vão doar prótese de uma perna para quem tem as duas amputadas. É uma gastança absurda e injustificada de uma lado e esse tipo de corte de outro lado. É uma vergonha e uma afronta à população brasileira”, criticou a deputada Mara Gabrilli (SP).
A parlamentar diz que o governo faz “tudo pelo avesso”. Segundo ela, o Planalto deveria cortar gastos reduzindo o número de ministérios e as propagandas oficiais. Mexer com a saúde pública, no entanto, é inadmissível. Mara destaca que as mulheres cadeirantes têm grande dificuldade para fazer a mamografia porque os equipamentos especiais são escassos. Em São Paulo, por exemplo, só há uma máquina.
“Deveriam expandir o serviço, não diminuir. Isso é um retrocesso. Quer reduzir gastos? Vai diminuir o número de ministérios, mas não mexer com a saúde das pessoas. As pessoas precisam dos exames”, destaca a deputada.
Para Raimundo Gomes de Matos (CE), a portaria é absurda e impede o cumprimento constitucional de acesso ao SUS. “Restringir o acesso das mulheres ao exame é prever que teremos gastos muito maiores no futuro, pois assim diminui a prevenção e o diagnóstico precoce e lá na frente, quando se descobrir uma possível doença, o custo do tratamento será muito maior”, alerta. O tucano ressalta que a oposição, tal como o CFM devem se mobilizar para conseguir derrubar a portaria.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, cerca de 25% dos casos de câncer de mama no Brasil são detectados nas mulheres com idade entre 40 e 50 anos. Essas só terão acesso à mamografia se as prefeituras pagarem pelo exame. O câncer de mama é o mais frequente e a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil e no mundo. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 57 mil novos casos sejam diagnosticados no país em 2014. De forma geral, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem ressaltado a necessidade de prevenção às neoplasias, que devem atingir 24 milhões de pessoas até 2035.
Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo
Comentários
Postar um comentário