Mensalão: Pizzolato é preso com passaporte falso na Itália




GRACILIANO ROCHA, FERNANDA ODILLA E NATUZA NERY - Folha.com

A polícia italiana prendeu o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Ele era o único dos condenados do mensalão que estava foragido desde a decretação das primeiras prisões, em novembro passado.

Pizzolato fugiu para a Itália, país do qual tem dupla cidadania e, por isso, não pode ser extraditado. Mas, segundo a Folha apurou, ele está com um documento falso –o passaporte de um irmão morto, segundo as informações iniciais.

Foi preso por este motivo pelos "carabinieri", a polícia local italiana, na cidade de Maranello (Emiglia Romana, região ao norte da Itália).

A Polícia Federal brasileira ainda não comentou o caso, mas segundo a Folhaapurou já recebeu o mesmo informe. Segundo os dados iniciais, Pizzolato usou o passaporte falso para fugir via Buenos Aires.

FUGA

Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por seu envolvimento com o esquema do mensalão, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato fugiu do Brasil para a Itália em novembro do ano passado.

Um dia após a expedição de seu mandado de prisão, Pizzolato divulgou por meio de seu advogado, uma nota dizendo que havia fugido para a Itália com o objetivo de escapar das consequências de um "julgamento de exceção". Pizzolato disse ter fugido para a Itália em busca de uma chance de conseguir um novo julgamento. Ele foi o único da lista dos 12 condenados no mensalão que tiveram a prisão decretada a não se entregar à polícia.

Além disso, alegou que gostaria de ver seu caso sendo novamente analisado pela Justiça italiana, onde não haveria pressões "político-eleitorais". Devido à sua cidadania, ele estaria em relativa segurança na Itália, uma vez que o país europeu não extradita seus nacionais.

Pizzolato só poderia ser preso se o Brasil conseguisse fazer com que a Justiça italiana abrisse um processo relativo aos crimes do mensalão e, após novo julgamento, o condenasse. Isso tudo, porém, seria algo extremamente difícil de acontecer, segundo especialistas em direito internacional ouvidos pelaFolha.

Tão logo sua carta foi divulgada, a Polícia Federal incluiu o nome de Pizzolato na chamada difusão vermelha da Interpol, deixando-o na lista internacional de criminosos procurados.

ROTA

Amigos do ex-diretor disseram que, para chegar à Itália, Pizzolato teria seguido de carro do Rio de Janeiro até a fronteira com o Paraguai, cruzando-a a pé. Em outro carro teria ido até a fronteira com a Argentina, ingressando também à pé naquele país.

De lá, com um documento provisório, que pode ser emitidos por consulados a alguém que teve seu passaporte extraviado, teria voado para a França e, por fim, sempre segundo informações de seus amigos, teria seguido por terra para a Itália.

Oficialmente, a PF não se manifesta sobre as investigações. No começo do mês, o diretor-geral da corporação, Leandro Daiello, afirmou em audiência na Câmara dos Deputados que o paradeiro de Pizzolato ainda era desconhecido da PF e que ele estava sendo procurado dentro e fora do Brasil.

Segundo policiais ouvidos pela Folha, de lá para cá não houve grandes mudanças na investigação. Dentro da PF há pelo menos duas visões distintas sobre o processo de localização do ex-diretor.

Um grupo entende que falta um empenho maior nas investigações. Alega que encontrar Pizzolato não é uma das prioridades da instituição e que, caso fosse, seria possível ter chegado ao paradeiro do condenado 43 dias após a expedição do mandado de prisão.

Outro grupo entende que, passados os primeiros dias da fuga, o melhor a fazer é dar liberdade ao fugitivo para que ele se descuide e acabe por deixar um rastro detectável pelas autoridades, o que possibilitaria a descoberta de seu paradeiro. Policiais alegam, contudo, que a espera de um escorregão normalmente é demorada –e um descuido pode eventualmente nunca chegar a acontecer.


CONDENADO

CRIMES Corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro

PENA 12 anos e 7 meses de prisão em regime fechado, mais uma multa de R$ 1,3 milhão

O QUE ELE FEZ Em 2003 e 2004, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil autorizou o repasse de R$ 73,8 milhões que a instituição tinha no fundo Visanet para a DNA, agência de publicidade do empresário Marcos Valério que tinha contrato com o BB e foi usada para distribuir dinheiro a políticos. Pizzolato recebeu R$ 336 mil do esquema

O QUE ELE DISSE Pizzolato afirmou durante o julgamento que o dinheiro que recebeu era destinado ao PT e foi entregue a um emissário do partido. Ele se queixou do fato de que outros executivos do banco autorizaram repasses de recursos do Visanet e não foram processados. Ele nega que o dinheiro tenha sido desviado para o mensalão

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