Mais Médicos: abandono de cubanos leva ministro a Havana


Associação Médica Brasileira vai ajudar quem desistir do programa


GUSTAVO URIBE  e  MARCELLE RIBEIRO - O  Globo

A polêmica em torno das condições de trabalho e da remuneração dos cubanos contratados para o programa Mais Médicos levou nesta quinta-feira o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, a Havana. Figueiredo conversou sobre o assunto com o chanceler de Cuba, Bruno Parrilla. Foi a primeira vez que duas autoridades do primeiro escalão de Brasil e Cuba tratam do tema desde que começou a debandada de médicos cubanos, alguns se queixando do fato de só receberem uma pequena parte do salário pago aos médicos pelo Ministério da Saúde.

O teor da conversa não foi revelado pelo Itamaraty. A posição do governo brasileiro é evitar que o problema, iniciado pelo abandono do programa pela médica cubana Ramona Matos Rodríguez, transforme-se em um incidente diplomático. Outros quatro profissionais inscritos no Mais Médicos também deixaram o programa sem comunicar formalmente a desistência.

Segundo fontes, Figueiredo teria tratado com Parrilha sobre formas de evitar que o programa seja esvaziado, incluindo a melhora da remuneração dos médicos. O governo de Cuba estaria preocupado com esse cenário, uma vez que os médicos enviadas ao Brasil são produtos de exportação da ilha caribenha.

Programa

Em São Paulo, depois de criticar severamente a contratação de médicos cubanos, a Associação Médica Brasileira lançou um programa para recrutar profissionais vindos do exterior e que estejam insatisfeitos com o Mais Médicos. Chamado de Programa de Apoio ao Médico Estrangeiro, o projeto tem como objetivo proteger “a liberdade e integridade dos profissionais trazidos de outros países”.

Segundo o presidente da AMB, Florentino Cardoso, desde que a médica cubana Ramona Rodrigues procurou a entidade médica, mais de dez cubanos já pediram ajuda à associação. Para o dirigente, a iniciativa não tem o objetivo de prejudicar o mais Médicos, mas apenas dar condições mínimas de trabalho para os profissionais que recebem menos do que os de outras nacionalidades.

— A iniciativa faz parte de algo para mostrar à população brasileira e a todos os médicos estrangeiros que os médicos brasileiros são solidários às questões que os envolvem. Nós não temos nada contra os médicos estrangeiros. Só defendemos princípios e as leis brasileiras. Se o médico quer ficar no Brasil, ele deve revalidar o diploma — disse Cardoso.

De acordo com Cardoso, as condições dos médicos cubanos no programa do governo federal têm sido “análogas à escravidão”. Cardoso disse que a médica Ramona Rodrigues está com medo de permanecer no país. Segundo nele, a Polícia Federal a procurou no abrigo onde ela permanecia. Cardoso afirmou que a própria médica poderá atender médicos que procurarem ajuda. Para os médicos estrangeiros "em situação de risco no Brasil", a AMB disponibiliza ajuda pelo telefone (11) 97078-4610 ou pelo e-mail medicoestrangeiro@amb.org.br.



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