"As várias cracolândias", artigo de Andrea Matarazzo


Nos acalorados debates sobre a disseminação do crack a céu aberto na cidade de São Paulo o que não falta é divergência de opiniões sobre o tema. No entanto, em meio a inúmeros posicionamentos antagônicos, existe espaço para convergências

O programa De Braços Abertos, implantado recentemente pelo prefeito Fernando Haddad, porém, vai contra esta linha de atuação

Parece ser consenso que qualquer esfera de governo, ao propor programas de combate a cracolândias - como aquela que se instalou na região central de São Paulo - e seus desdobramentos - as mini-zonas de consumo e tráfico que se espalharam pelos bairros da cidade - terá que, obrigatoriamente, ancorar suas ações em duas vertentes distintas, mas complementares: o acolhimento e tratamento do dependente químico e o cerco ao narcotráfico.

O programa De Braços Abertos, implantado recentemente pelo prefeito Fernando Haddad, porém, vai contra esta linha de atuação. Não faz sentido acolher o dependente em hotéis circundados de traficantes na mesma região onde são absorvidos pelo crack. E pagar para eles. É preciso levá-los para locais longe do alcance do narcotráfico. Seu trabalho, da mesma forma, não deve ser nestas redondezas. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social parece, em boa hora, admitir internamente que, de fato, os hotéis centrais não são braços acolhedores ideais. Tanto é que já existe a procura de alojamentos alternativos em outras áreas da cidade. O ideal, no entanto, seria encaminhar os dependentes para locais onde sejam oferecidos tratamentos adequados visando sua reinserção social. 

E como a rede do tráfico atua onde existem potenciais consumidores de todo e qualquer tipo de droga, é preciso que o aparato repressivo e de inteligência das forças de segurança pública atue com tolerância zero em relação aos traficantes, sempre dentro dos limites legais, impedindo a formação de micro-cracolândias nos bairros da cidade. 

O êxito do combate ao crack na cidade onde vivemos e trabalhamos passa pela real capacidade de ações articuladas nos campos social e de segurança, protagonizadas pela União, Estado e Município. 

Artigo publicado em 20/02 no jornal Diário de S.Paulo

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