Flagrantes mostram UPAs fechadas e até abandonadas em todo o país


Algumas unidades precisam de reformas mesmo sem terem sido usadas.
Uma delas teve toda a fiação elétrica roubada, outra está cheia de mofo.

Milhões de pessoas têm queixas sobre a qualidade do serviço de saúde pelo país, mas Unidades de Pronto Atendimento novinhas - que foram até inauguradas e receberam equipamentos - nunca atenderam nenhum paciente.

As UPAs deveriam funcionar 24 horas todos os dias pra desafogar as filas dos hospitais, só que o que as equipes do Bom Dia Brasil flagraram foram situações de total abandono. Algumas unidades já precisam de reformas, mesmo sem terem sido usadas.

Tem caso de unidade em que toda a fiação elétrica foi roubada. Imagine o que é morar em um bairro ou em uma cidade pobre, ser vizinho de um prédio desse e não conseguir médico ou ter que ir até outra cidade para ser atendido. É uma sensação de revolta que muitos brasileiros estão sentindo.

Os problemas na cobertura chegaram antes dos funcionários, que ainda nem foram contratados. Os equipamentos também não existem, e olha que o prédio já está pronto há mais de um ano. O custo: R$ 2 milhões.

Na nova UPA de Araguaína, segunda maior cidade do Tocantins, o mofo vai se infiltrando. A construção terminou faz dois anos e meio, mas a prefeitura diz que falta dinheiro para comprar equipamento e contratar funcionários.

O Ministério da Saúde diz que, se a unidade não abrir até março, a prefeitura vai ter que devolver os mais de R$ 2 milhões que recebeu do Governo Federal.

Outra Unidade de Pronto Atendimento, em Patos de Minas, custou R$ 5 milhões e foi concluída há um ano. Os equipamentos quase foram perdidos quando a chuva entrou na área do atendimento de emergência. O conserto foi feito e a nova previsão é de abrir em março.

Em Francisco Morato, na Grande São Paulo, a população passa pelo prédio novo, que está fechado há muito tempo. “No começo estava abandonado e os vândalos acabaram roubando alguma coisa. Agora tem guarda, pararam. Mas no começo andaram invadindo, pelos fundos, e roubaram bastante coisa: fiação, destruíram banheiro, levaram tudo”, diz o comerciante João Batista.

Do outro lado da Região Metropolitana, a UPA de Carapicuíba começou a ser construída em 2010 e deveria ter ficado pronta um ano depois. Nunca atendeu nenhum paciente. Fica em um dos bairros mais pobres da cidade, onde mora a Ionice Alves de Lima, que tem seis filhos.

“Hoje tem que pedir dinheiro para os outros emprestado para pôr gasolina no carro para levar para outro hospital porque, se tem aqui perto, mas não resolve nada”, conta.

O projeto é ambicioso: a área externa vai servir de base para o Samu na região e o prédio principal será um centro de referência de pronto atendimento, com capacidade para atender até 400 pessoas por dia. Por enquanto, na prática, hoje ele funciona como depósito.

“Chega o caminhão vazio, tira o maquinário daqui para levar para outros lugares. Agora eu me pergunto: se entra e sai, entra e sai, isso aqui é o quê? É um depósito só. Quando que vai inaugurar isso?”, questiona o líder comunitário Luis Carlos da Silva.

O orçamento desta unidade é de R$ 1,5 milhão. A prefeitura alega que a construtora abandonou a obra e informa que pediu uma nova licitação, para começar o funcionamento em março.

Maria Salete Leite dos Santos tem três filhos, sete netos e um bisneto a caminho. Ela sofre de diabetes e hipertensão, e acredita que a unidade vizinha funcione logo. “É um sonho. Antes de eu morrer, quero ver se eu ainda vou me consultar aqui”, diz a aposentada.

A inauguração da unidade de Ponta Grossa, do começo da reportagem, deve acontecer em março. Mas, antes é preciso contratar quase 140 profissionais e comprar desde roupa de cama até monitor cardíaco e desfibrilador.

A prefeitura de Francisco Morato diz que a construção não seguiu algumas normas importantes e que toda a fiação foi furtada. O projeto de uma nova licitação foi encaminhado ao Ministério da Saúde há três meses e a prefeitura aguarda a liberação para fazer as reformas.

O Ministério da Saúde diz que já tinha dado prazo até março para a prefeitura apresentar a documentação final e providenciar o funcionamento dos serviços.

O ministério diz que existem hoje 303 Unidades de Pronto Atendimento em funcionamento no país e 745 em obras ou em fase de conclusão.

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