Tucanos cobram explicações de Cardozo por envio de denúncia à PF


Ministério da Justiça diz que denúncia contra políticos do PSDB foi entregue por deputado petista e depois repassada à Polícia Federal
Aécio diz que PT usa as "instituições do Estado para um projeto político"
Líder do PSDB na Câmara classificou de inaceitável a conduta do ministro Cardozo


DEMÉTRIO WEBER - O Globo

Aécio Neves participa de congresso do PPS no Rio Fábio Seixo 
O Globo

A oposição reagiu, neste sábado, à divulgação da informação de que o deputado estadual petista Simão Pedro (SP) entregou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, depoimento que traz acusações de propina envolvendo tucanos no governo de São Paulo. Senador e pré-candidato à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que o PT usa as "instituições do Estado para um projeto político". O repasse das denúncias à PF pelo próprio ministro também foi alvo de críticas.

Veja também
Cartéis, CADE e o PT
Ex-diretor da Siemens nega ser autor de acusações contra os tucanos
Ex-Diretor da Siemens nega delação nas licitações da CPTM e do Metrô


Para Aécio, a atitude de Cardozo comprova o uso político da máquina.

- Isso é extremamente grave, o que nós estamos percebendo no Brasil de forma crescente é a utilização de instituições do Estado para um projeto político. Isso jamais ocorreu antes no Brasil. É um atentado contra a própria democracia. O ministro (da Justiça) precisa esclarecer de forma clara qual foi sua participação nesse processo, já que ele é o comandante da própria Polícia Federal - disse em entrevista.

Simão Pedro (PT), que entregou a denúncia a Cardozo, está licenciado do cargo e é atualmente secretário de serviços da prefeitura na capital paulista. Ele admitiu que entregou as denúncias.

Em nota, o líder do PSDB na Câmara, deputado federal Carlos Sampaio (SP), classificou de inaceitável a conduta do ministro Cardozo.

— Ao admitir que encaminhou o documento à Polícia Federal, o ministro demonstra claramente que integrou essa trama vergonhosa e sórdida com o uso de órgãos do governo federal para perseguir e atacar adversários políticos. Há em curso uma ação ordenada que, para mim, tem dois objetivos claros: minimizar o impacto da prisão dos mensaleiros e jogar gasolina na fogueira contra o PSDB em São Paulo. É inadmissível e vergonhoso que um ministro da República se preste a este papel — diz Sampaio, na nota.

Para o deputado tucano, a atitude do ministro "segue a cartilha do PT, que se apoderou de todo o Estado e o usa de forma descarada para tentar se manter no poder":

— Já tínhamos a certeza de que o Cade, presidido por um militante petista, é utilizado politicamente e agora, com essa informação, é possível concluir que o próprio ministro participou dessa trama, cujo objetivo específico é atingir o PSDB. Isso é gravíssimo, exige amplo esclarecimento dos fatos e coloca sob suspeita todo o processo de investigação do Cade — declara Sampaio, na nota.

Aécio: 'utilização criminosa de instituições

Aécio, que participa do 18º Encontro do PPS, no auditório da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na Zona Norte da cidade, também comentou a prisão dos mensaleiros. O senador afirmou que não fica satisfeito com prisões, mas "quem comete crimes deve ser punido". O tucano defendeu que as denúncias do "mensalão mineiro" também sejam julgadas.

- É a utilização irresponsável e quase criminosa de instituições do Estado para sustentar um projeto de poder. Aliás, há muito tempo o PT abdicou de um projeto de país transformador para se contentar com um projeto de poder - afirmou durante discurso.

Nota do Ministério da Justiça

De acordo com a assessoria do Ministério da Justiça, a denúncia apresentada por Simão Pedro estava acompanhada de documentos e foi encaminhada à Polícia Federal há cerca de cinco meses, entre o fim de maio e início de junho, como ocorre rotineiramente com denúncias que chegam ao ministro.

Ainda segundo a assessoria, esse tipo de procedimento é feito de ofício, pois, do contrário, o ministro poderia ser acusado de prevaricação, isto é, de deixar de cumprir seu dever por interesse ou má-fé.

Na nota, o Ministério da Justiça reitera que a documentação não foi enviada à PF pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que regula a livre concorrência no país e é subordinado ao ministério.

"O Ministério da Justiça esclarece que, tendo recebido do deputado Simão Pedro denúncias, acompanhadas de documentos, envolvendo a ocorrência de eventuais atos ilícitos na execução de obras do metrô de São Paulo, encaminhou-as, no estrito cumprimento do dever legal, à Policia Federal (PF) para as devidas investigações. O Ministério reafirma que a documentação não foi encaminhada à PF pelo Conselho Administrativa (sic) de Defesa Econômica (Cade)", diz a nota.

Ex-diretor da Siemens diz que documento atribuído a ele é anônimo

O ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer afirmou em nota que o documento atribuído a ele - que relaciona o nome de políticos de vários partidos, principalmente do PSDB, à empresa Procint, uma das consultorias citadas na investigação do cartel metroferroviário em São Paulo - é um documento anônimo e que o conteúdo foi distorcido e não condiz com a realidade. Rheinheimer diz que nunca encaminhou tal documento ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) ou à Polícia Federal, nunca foi filiado a partidos políticos e jamais usou suas informações para obter em troca qualquer cargo ou emprego (Leia a nota).



Comentários