Haddad afastou Donato, mas ainda falta Tatto


Blog do Josias

Foto: Karime Xavier/Folha

Nesta terça-feira, com atraso, o prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, rendeu-se a um ensinamento que seu padrinho Lula e sua amiga Dilma Rousseff aprenderam na marra: em meio a escândalos, os melhores amigos melhores amigos de um administrador público são a caneta e o Diário Oficial, não os companheiros encrencados.

Há pelo menos duas semanas, o secretário de Governo da prefeitura de São Paulo, Antonio Donato, tornara-se uma demissão esperando para acontecer (repare na ilustração lá do rodapé). Surgira um elo de Donato com a máfia dos fiscais. Haddad rebarbou. Aparecera o segundo indício. O prefeito nem tchum. Sobreviera o terceiro vínculo. Nada. O quarto. Haddad nem aí.

Súbito, descobriu-se que Haddad abrigou em seu gabinete, no andar do prefeito, um dos fiscais que passaram pela cadeia na semana passada. E Donato, já bem maduro, caiu. No tombo, esmagou uma frase pronunciada por Haddad no alvorecer do escândalo: “Até aqui, não há interface visível do esquema com o mundo político.”

Eliminada uma das interfaces petistas, o prefeito precisará de tato para lidar com a outra. Soube-se na semana passada que outro fiscal sob suspeição era sócio num estacionamento de Adli Tatto, mulher do secretário de Transportes da Prefeitura, Jilmar Tatto. Ouvido, o auxiliar de Haddad declarou: 1) não se lembrava da união comercial de sua mulher com o fiscal; 2) desconhecia que o sócio dela era investigado.

Ainda que Haddad queira admitir que a memória de seu secretário está sujeita a surtos de amnésia, talvez devesse considerar a hipótese de promover o afastamento de Jilmar Tatto. Se preferir, pode optar pelo afastamento temporário. Sobrevivendo às investigações, Tatto retoma a cadeira.

Em casos análogos, o PT deu-se mal sempre que optou pelos companheiros em detrimento da lógica. Lula segurou José Dirceu além do conveniente. Dilma fez o mesmo com Antonio Palocci. Mimetizando-os, Haddad retificará o brocardo. Provará que é errando que se aprende. A errar.

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