"São Paulo, entre o caos e o ócio", artigo de Andrea Matarazzo


Folha de S.Paulo


Interessante que o crescimento desordenado da cidade de São Paulo tenha gerado carência de locais públicos para o lazer e o esporte e, ao mesmo tempo, grandes terrenos ociosos. O Jockey Club e o estádio do Pacaembu são espaços importantes, mas subutilizados.

O Jockey foi criado em 1875 com o nome de Club de Corridas Paulistano. Ele ficava no Hipódromo da Mooca. A primeira prova de turfe ocorreu em 1876. Em 1941, mudou-se para a avenida Lineu de Paula Machado, em uma bela área verde de 500 mil metros quadrados, no bairro de Cidade Jardim.

Hoje, está mal aproveitado. Para atrair mais pessoas, poderia se tornar um local público sem perder as características de turfe nem modificar a paisagem urbana. É possível preservar as pistas de corrida, parte das cocheiras, a sala de apostas e as arquibancadas. O restante se tornaria um parque municipal, por meio da aquisição, pela prefeitura, do terreno por instrumento legal.

Isso resolveria a difícil situação financeira pela qual o clube passa devido ao alto custo de manutenção da área e da grande dívida de impostos que tem com o município.
Seria um modelo similar ao do Jockey de San Isidro, em Buenos Aires, que funciona também como parque público.

Quando fui secretário municipal das Subprefeituras, de 2006 a 2009, fizemos algo semelhante, recuperando um importante espaço público da cidade e devolvendo-o à população. Retomamos uma área de 112 mil metros quadrados que estava invadida e implantamos o Parque do Povo, hoje um sucesso.

O estádio do Pacaembu, idealizado pelo modernista Mário de Andrade nos anos 40, quando dirigia o Departamento de Cultura e Recreação da prefeitura, nunca foi usado com a função com que fora pensado.

Originalmente, o estádio foi planejado para ser um centro de referência de esportes e atletismo. Sua vocação pode ser resgatada. Atletas de clubes públicos ou privados que não disponham de espaço adequado para treinamento de esportes de alta performance podem encontrar ali seu centro de treinamento.

O Pacaembu se ajusta perfeitamente a essa finalidade, já que, além do estádio, tem boa estrutura para atletismo, tênis, natação e outros esportes. Toda a sua área também pode servir como clube municipal pela população, já que, no entorno, há mais de 80 mil jovens.

Caso haja necessidade de alojamento para atletas, poderá ser incorporado o prédio da antiga Febem no Pacaembu, já ligado ao estádio pela passarela sobre a rua Desembargador Paulo Passaláqua.

Para a manutenção do novo centro esportivo, é possível atrair empresas dispostas a patrociná-lo sem distorcer sua finalidade nem desfigurar sua estrutura, a exemplo do que já acontecia com o complexo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, que era mantido pela BMF.

O estádio do Pacaembu e o Jockey Club da Cidade Jardim são pulmões verdes em São Paulo, fazem parte da paisagem urbana da cidade e devem ser preservados. Ambos foram doados pela Cia. City para que mantivessem essa vocação. Estão em bairros tombados e precisam permanecer como patrimônios da capital. Seu melhor aproveitamento é bom para todos.

ANDREA MATARAZZO, 56, é vereador em São Paulo pelo PSDB. Foi secretário de Estado da Cultura de São Paulo (governo Geraldo Alckmin) e secretário municipal das Subprefeituras (gestão Serra/Kassab)

Comentários