PSDB quer que ex-funcionário da Petrobras fale sobre suposto esquema de corrupção


GABRIELA GUERREIRO - Folha.com


O PSDB apresentou pedido nesta segunda-feira (12) para ouvir o ex-funcionário da Petrobras João Augusto Rezende Henriques, que revelou um suposto esquema de corrupção na Petrobras. No documento, os tucanos pedem que Henriques seja convidado a depor na Comissão de Agricultura e Fiscalização e Controle do Senado sobre a denúncia de que contratos fechados na divisão internacional da estatal desde 2008 foram usados para arrecadar propina de empresas.

O requerimento tem que ser aprovado na comissão para que Henriques seja convidado a depor --o que deve ocorrer na semana que vem. Como ele não pode ser convocado, porque não está mais vinculado ao governo, ele não é obrigado a atender ao convite dos senadores tucanos.

"Ele pode nos falar sobre as circunstâncias em que ocorreu o crime, aí teremos elementos para investigar essa denúncia. É o crime continuado", afirmou o líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (SP).

A oposição defende a instalação de CPI, na Câmara, para investigar a Petrobras. Já há assinaturas suficientes de deputados para que a comissão seja criada desde o ano passado, mas até hoje ela não saiu do papel. "Só depende do presidente da Câmara para que a CPI seja instalada", disse Aloysio.

No Senado, não há movimentação de congressistas para a instalação de CPI da Petrobras. Apenas a estratégia de convidar peemedebistas, ou ex-servidores do governo, que possam revelar detalhes do suposto esquema.

"O Supremo Tribunal Federal condenou o mensalão, mas essa reportagem da Época demonstra que o mensalão está vivo e está presente na vida do atual governo. Nós precisamos ouvir o denunciante para esclarecer todos estes fatos", afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), referíndo-se a uma matéria que trata do caso.

DENÚNCIA

Reportagem publicada pela revista "Época" afirma que os pagamentos da suposta propina teriam beneficiado a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 e políticos do PMDB.

De acordo com a reportagem, na venda de uma refinaria da Petrobras na Argentina para o empresário local Cristóbal Lopez, por US$ 110 milhões, pelo menos US$ 10 milhões teriam sido pagos a lobistas ligados ao PMDB.

A reportagem baseia-se num contrato de 2008 assinado pelo ex-deputado Sérgio Tourinho --apontado como lobista do partido-- e pelo advogado argentino Jorge Rottemburg. O documento estipularia o pagamento de US$ 10 milhões ao brasileiro caso o negócio fosse concluído.

"A declaração prestada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a campanha de 2010 registra todos valores que o Diretório Nacional arrecadou naquele ano, e foi a única forma pela qual o PMDB financiou sua campanha", disse o partido.

A revista afirma que a denúncia do esquema foi feita pelo ex-funcionário da Petrobras João Augusto Rezende Henriques. Segundo a reportagem, Henriques teria dito que todos os contratos da área internacional da estatal tinham que passar por ele, que cobrava uma propina dos empresários. Parte dos recursos era repassada ao PMDB.

"João Augusto Rezende Henriques não tinha autorização ou delegação para falar ou atuar em nome do PMDB, nem para buscar recursos para a campanha", afirmou o PMDB.

Segundo a revista, Henriques disse que responsáveis pela campanha de Dilma em 2010 receberam US$ 8 milhões de propina proveniente de um contrato da divisão internacional da Petrobras com a construtora Odebrecht.

Henriques chegou a ser indicado pelo PMDB para uma diretoria na Petrobras em 2006, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas teve seu nome vetado.

José Filippi Júnior, tesoureiro da campanha de Dilma, disse à revista não conhecer Henriques e nega recebimento de dinheiro fora da contabilidade oficial, que foi aprovada pela Justiça Eleitoral.

Em nota oficial, o presidente do PMDB negou o recebimento dos recursos e disse que Henriques não pode falar pelo partido.

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