Logística ilógica - Carta de Formulação do ITV



Era para ser motivo de comemoração, mas a supersafra agrícola que o país está colhendo virou uma tremenda dor de cabeça. Com a colheita apenas no início, tornaram-se comuns congestionamentos diários de caminhões em rodovias e vias de acesso a portos e até de navios em alto-mar. A falta de infraestrutura está estrangulando o Brasil.

Este não é um quadro novo. Há anos, a estrutura de transportes tem se mostrado aquém das necessidades do país, notadamente das necessidades do pujante agronegócio nacional. Bastou, porém, que o campo fosse ainda mais eficiente para nossa logística revelar-se ainda mais deficiente. A situação atual tem se mostrado especialmente dramática.

O problema começa no descompasso entre o volume de grãos que o país está produzindo e a nossa capacidade de armazenamento: para uma safra de 185 milhões de toneladas, os silos e armazéns existentes conseguem absorver apenas até 148 milhões de toneladas. A distribuição destas unidades pelo território também é irregular, em prejuízo, principalmente, das novas fronteiras agrícolas.

Sem ter onde estocar a safra, o produtor é forçado a desová-la rapidamente. Por causa da grande oferta no mercado, os preços caem e os agricultores não aproveitam as melhores janelas para venda. É a logística caquética cobrando seu preço de quem é mais eficiente.

Quando a colheita ganha ritmo, a safra afunila em estradas incapazes de dar conta do volume de caminhões que confluem para transportá-la. Surge daí o segundo, e mais grave, problema dos produtores agrícolas locais: num país de dimensões continentais como o nosso, a maior parte do transporte de cargas é feita por rodovias e não por ferrovias e hidrovias, como é comum em países como os Estados Unidos.

Resultado: enquanto para um produtor de Iowa, o frete até o porto equivale a 9% do preço da soja que colhe, para um agricultor do Mato Grosso, o custo representa 30% do valor final, segundo a edição da revista Veja desta semana. O produtor brasileiro é imbatível da porteira para dentro, mas leva uma surra quando passa a depender da caótica infraestrutura viária do país.

Um indicador sintetiza as péssimas condições logísticas brasileiras: entre 144 países, estamos na 107ª posição em relação à qualidade da nossa infraestrutura, de acordo com a mais recente pesquisa do World Economic Forum. O que já era ruim piorou muito nos anos Dilma: no levantamento relativo a 2010-2011, o Brasil figurava na 84ª colocação neste quesito. Ou seja, em apenas dois anos, caímos nada menos que 23 posições.

Diante do caos que se instalou em rodovias e portos congestionados pela supersafra, o governo federal agora promete "medidas emergenciais" para enfrentar a situação. É novamente a estratégia (ou a falta de) de lançar mão de paliativos para enfrentar problemas prementes.

Segundo a Folha de S.Paulo, os técnicos do governo também pretendem requentar anúncios, como o do novo marco regulatório dos portos - cuja medida provisória tramita no Congresso - e o das novas concessões de ferrovias e rodovias, por enquanto apenas uma miragem frente à dificuldade que o Planalto demonstra para tomar decisões.

Não se pode dizer que nem a atual supersafra brasileira nem a insuficiente infraestrutura de transportes do país tenham pego o governo de surpresa. É a típica pedra cantada, à qual a gestão petista fez ouvidos moucos e tentou empurrar com a barriga. Agora não tem mais jeito.

Há um rol de obras viárias que há muito demandam a atenção de Brasília, mas não deslancham. Muitas delas situadas nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, poderiam abrir novas e mais baratas rotas de escoamento para a safra brasileira. São elas: os portos de Itacoatiara, Santarém e Marabá; a conclusão das ferrovias Norte-Sul, Ferronorte e Oeste-Leste; e a pavimentação da BR-163 e da BR-158, para ficar apenas em alguns exemplos.

A esperança reside na aceleração dos investimentos privados em ferrovias e na concessão de rodovias, para que o Brasil consiga destravar seu caminho e decolar. São soluções cantadas em prosa e verso pela oposição há muito tempo, mas que sempre encontraram a resistência ideológica petista, ciosa da preservação do gigantismo estatal. Esta visão atrasada das coisas está agora cobrando seu preço.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

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