Blog do Josias
“Isso mostra como o instituto do veto presidencial, republicano e necessário, pode ser desvirtuado quando está a serviço dos interesses político-partidários e eleitorais”, disse o deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE), autor do artigo que Dilma passara na caneta. “Não há nada que justifique a presidente ter vetado um dispositivo legal há poucos meses e agora anunciar a mesma coisa como iniciativa sua.”
Deu-se numa sessão noturna de 16 de julho do ano passado a aprovação da desoneração da cesta básica na Câmara. Bruno Araújo, à época líder do PSDB, enfiou a novidade dentro de uma medida provisória baixada por Dilma para instituir o programa Brasil Maior, de estímulo à indústria. No mês seguinte, em 7 de agosto, a medida provisória foi aprovada também noSenado.
Em 18 de setembro, Dilma mandou ao Diário a medida provisória do programa Brasil Maior.Vetou tudo o que deputados e senadores haviam pendurado no texto original enviado ao Congresso pelo Planalto –inclusive o artigo que zerava os tributos da cesta básica. Agora, apropria-se da iniciativa e faz média com as mulheres –ou com as eleitoras.
Dilma modificou a composição da cesta básica. Incluiu, por exemplo, produtos de higiene e limpeza. Nem isso justificaria o veto. Ouça-se novamente Bruno Araújo: “O texto que o Congresso tinha aprovado tirava os impostos federais e dava poderes à presidente para definir, por decreto, qual seria a composição da cesta básica. Não queríamos criar problemas para o governo, mas oferecer soluções ao consumidor.”
Um detalhe injeta ironia no episódio: Bruno Araújo inspirou-se num projeto de lei de um grupo de deputados petistas, liderados por Paulo Teixeira (PT-SP). A proposta previa o alívio tributário da cesta básica. Para não constranger o governo, descera às gavetas da Câmara. Ressuscitada pelo tucano e injetada na MP de Dilma, a coisa terminou virando verniz para a imagem da presidente.
O veto visava, percebe-se agora, apenas eliminar as digitais tucanas impressas na iniciativa. Na semana passada, a presidente dissera que, em época de eleição, “a gente faz o diabo”. Como se vê, falava sério. Em nota, o deputado Sérgio Guerra, presidente do PSDB, disse que Dilma deveria “se desculpar” pelo veto.
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