ABL recebe candidatura de FHC a imortal


HELOISA ARUTH STURM , GABRIEL MANZANO - O Estado de S.Paulo

Em carta levada pelo acadêmico - e ex-ministro do Exterior - Celso Lafer, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apresentou ontem à tarde, no Rio, sua candidatura à cadeira 36 da Academia Brasileira de Letras, que ficou vaga no dia 22 com a morte do escritor paulista João de Scantimburgo. O presidente em exercício da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, recebeu o pedido e oficializou a candidatura no fim da tarde, assim que terminou a Sessão da Saudade, ritual com que os imortais se despediram de Scantimburgo.

Eventuais interessados têm prazo de 30 dias para entrar na disputa e a Academia, mais 60 para realizar a eleição. Informalmente, calcula-se que FHC já dispõe de pelo menos 30 dos atuais 38 votos dos membros da ABL - a começar pelos que o lançaram, entre os quais José Sarney, Nélida Piñon, Marcos Vilaça e o próprio Lafer. "Há uma simpatia generalizada em torno do nome dele", disse o ex-ministro, já de volta a São Paulo, ontem à noite.

A ampla aceitação dos acadêmicos foi, segundo amigos, uma das condições de FHC para entrar na disputa. Seu "sim" tornou-se definitivo com a desistência do historiador Carlos Guilherme Mota, que, estimulado por outros imortais, como Alberto da Costa e Silva e Eduardo Portella, já reunia mais de 20 votos.

Recorde. O lançamento do nome de FHC, em um almoço no La Casserole, em São Paulo, na sexta-feira, foi dos mais rápidos da história. Ele dividia a mesa com outras sete pessoas, entre elas os imortais José Sarney e Nélida Piñon - todos conselheiros da Fundação Santillana, que patrocinava o encontro. Nélida recebeu, no celular, a informação sobre a morte de Scantimburgo. Passou-a a Sarney, na cadeira ao lado - e este logo sugeriu que Fernando Henrique seria um bom nome para a vaga. FHC concordou e autorizou a caça aos votos.

Além da carta à ABL, um breve texto de dois parágrafos, Fernando Henrique divulgou ontem explicações sobre a candidatura: não aceitou o convite antes porque não se considera "propriamente um escritor" e temia ser mal interpretado por ter sido antes presidente da República. Esclareceu ainda que não quer atrapalhar "caso apareça alguém que pretenda mais apropriadamente pertencer à ABL".

Ser literato, avisa a Academia, não é requisito para entrar no grupo. O importante é que se trate de figura ilustre da vida cultural do País. O time atual inclui, por exemplo, o ex-vice-presidente Marco Maciel, autor de livros políticos, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, jornalistas, críticos, advogados e conferencistas.

Essenciais ou não, FHC tem na bagagem mais de 30 obras, entre as quais clássicos da sociologia como Dependência e Desenvolvimento na América Latina e memórias políticas como A Arte da Política e A Soma e o Resto. Antes dele, porém, a ABL escolhe no próximo dia 11 - entre 11 candidatos - o sucessor do poeta Ledo Ivo, que morreu em dezembro.

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