E apontam falta de planejamento de longo prazo
JÚNIA GAMA e ISABEL BRAGA - O Globo
Hélio Bicudo, petista histórico que deixou o partido em 2005, vê o PT como uma legenda que se equiparou aos demais na busca pelo poder e se afastou de seus propósitos iniciais. E não esconde a grande decepção: o ex-presidente Lula e a esperança que murchou.
— A maneira pela qual o partido se comportou quando Lula foi eleito foi uma grande decepção. Ficou claro que o PT buscava a eleição somente para distribuir benesses a um grupelho. Se o PT continuar nas mãos dessas lideranças que hoje o dominam, vai se afundar cada vez mais nessa linha de buscar vantagens pessoais. O Lula é a principal figura que puxa essa posição egoística do PT.
Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, foi ministro da Ciência e Tecnologia nos primeiros anos do governo Lula. E engrossa o coro de seu partido, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de que o PT terá de enfrentar o desafio do crescimento econômico para se manter no poder nos próximos anos.
— A retomada do crescimento da economia, mantendo a distribuição de renda, torna todos os demais desafios secundários. Não avançaremos na Educação, não resolveremos o problema de infraestrutura se não voltarmos a crescer. Devemos pensar em 5% de crescimento, no mínimo.
Outro fundador do PT, o carioca Vladimir Palmeira, que deixou as fileiras da militância petista em junho de 2011 por não aceitar a volta de Delúbio Soares, também destaca os avanços na distribuição de renda como a grande marca positiva dos dez anos do PT no poder. Mas diz que o partido está sem perspectiva, já que age mais a reboque dos fatos do que a partir de grandes projetos.
— A curto prazo, Lula acertou, mas o Brasil não tem rumo para os próximos 30 anos. Ele tinha a ideia central de acabar com a miséria, aplicou a ideia, mas faltou pensar no longo prazo. Dilma não tem projeto nem a médio prazo. Não adianta e não pode mais repetir o modelo Lula, que se esgotou, é insuficiente. Como Dilma não tem projeto de médio prazo, (Guido) Mantega (ministro da Fazenda) chuta para todos os lados com uma série de medidas — diz Vladimir Palmeira.
Um dos mais ácidos críticos do governo, apesar de ser de um partido da base, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) reconhece os avanços da era Lula, mas reforça as críticas sobre o afastamento do PT de suas bandeiras históricas:
— Dilma, para se firmar como líder, terá que vencer 2013. Este ano será crucial, cruel para a presidente. A economia tem dado sinais de fadiga, PIB mínimo, a indústria encolhendo no país. E o PT tem que ter reformulação, se reunir e ver onde errou. Já tem várias vozes se levantando, dizendo que é preciso respeitar a decisão do Judiciário, tem que acatar, mudar práticas. Ver que o partido errou igual ou mais do que os demais.
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