Deputados do PT Paulo Teixeira e Cândido Vaccarezza envolvidos no escândalo da ex-chefe do gabinete da Presidência


MARIO CESAR CARVALHO e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO - Folha.com

Rosemary Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, sugeriu num e-mail que o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) receberia vantagens para ajudar o grupo investigado pela Polícia Federal na operação Porto Seguro.

Teixeira, líder do PT na Câmara, auxiliou Rose a se reunir com uma funcionária do governo que tinha poderes para encaminhar pedidos de empresas interessadas em ocupar ilhas da União.

Julia Moraes - /Folhapress
Ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Novóa de Noronha

Uma das ilhas citadas é a de Bagres, na entrada do porto de Santos. É lá que o ex-senador Gilberto Miranda, também investigado, quer montar um complexo portuário de R$ 2 bilhões --maior negócio flagrado na operação.

A mensagem que cita Teixeira foi enviada a Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) preso pela Polícia Federal no dia 23.

Vieira é acusado de chefiar um grupo que vendia pareceres e exercia tráfico de influência em órgãos federais.

No e-mail, de abril de 2009, Rose discute com Vieira a justeza de um valor que ela reivindica: "Qto ao pagamento que está para chegar considero que vc não está me fazendo nenhum favor, entendo que trabalhei muito junto a gordinha. Vc já esqueceu da reunião com o deputado Paulo Teixeira? Não foi coisa tão simples. O retorno que recebi não é nada perto do que ele receberá... Não nasci ontem não sou boba!"

Em seguida, Rose diz: "Se vc acha que não está correto aborte o envio dos 30 livros".

"30 LIVROS"

O texto é cifrado, mas a PF já sabe que "gordinha" é Evangelina Pinho, ex-superintendente da SPU (Secretaria do Patrimônio da União) em São Paulo. Os "30 livros", ainda segundo interpretação da polícia, seriam R$ 30 mil. "Livros" ou "exemplares" são maneiras que o grupo usava para se referir a dinheiro.
Evangelina aparece nas investigações da PF ajudando o ex-senador Gilberto Miranda a obter autorização da SPU para usar duas ilhas no litoral paulista: a de Bagres, local do projeto do porto de R$ 2 bilhões, e a de Cabras, onde ele tem uma casa.

Miranda conseguiu o que queria nos dois casos.

A PF descobriu que a ex-superintendente da SPU em São Paulo viajou no jatinho do ex-senador de Brasília para São Paulo.

Evangelina trabalhou com Teixeira de 2001 a 2005 na Secretaria da Habitação da Prefeitura de São Paulo, na gestão Marta Suplicy. Era responsável pelo Departamento de Regularização do Parcelamento do Solo (Resolo).

Teixeira confirmou à Folha que sua assessoria ajudou Rose a marcar a reunião com Evangelina. Ele diz, porém, que nada recebeu.

Petistas disseram à Folha que foi Teixeira quem indicou Evangelina, mas o deputado diz que não. Segundo Teixeira, Evangelina foi para o governo porque é do PT de Santo André e amiga de Alexandra Resk, que trabalhava na SPU.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT) também é citado em e-mails enviados por Rose a Paulo Vieira, quando ela faz lobby para que Vieira seja nomeado diretor da ANA, a agência de águas.

Rose marca e desmarca reuniões com Vaccarezza. Houve pressão de deputados porque o nome de Vieira, indicado pelo então presidente Lula para a ANA, foi recusada duas vezes no Senado. Ele só foi aprovado para a agência em terceira votação.

Editoria de Arte/Folhapress 


OUTRO LADO

O advogado Luiz Bueno de Aguiar, que defende Rosemary Noronha, disse que o deputado Paulo Teixeira não tem a ver com o grupo investigado pela Polícia Federal.

"É um caso de má redação, de redação tola. Aquilo não tem nada a ver com Paulo. Rose não solicitou nada e ele não ganhou nada", afirmou.

Segundo Aguiar, a única coisa que o deputado fez foi "atender o pedido de uma funcionária pública".

O advogado informou que deixou ontem defesa da ex-chefe de gabinete.

Paulo Teixeira diz que teve um único encontro com Rose, em janeiro de 2009.

Após esse encontro, segundo ele, sua assessoria ajudou Rose a marcar uma reunião com Evangelina Pinho.

O advogado Edson Torihara, que defende Evangelina, disse que não pode se pronunciar porque não teve acesso integral ao inquérito.

Em nota, o deputado afirma: "Em seis anos, como deputado federal, este foi o único contato que tive com a sra. Rosemary Noronha. Tampouco ela me pediu para receber ou tive contato com as demais pessoas mencionadas".

O deputado Cândido Vaccarezza (PT) afirma que Rose realmente pode ter tentado, sem sucesso, se reunir com ele para obter apoio para a indicação de Paulo Vieira.

"Nunca tive reunião política com ela. Está havendo uma repercussão exagerada em relação ao meu nome."

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