PT utiliza eleição para tentar abafar mensalão, diz Serra


No primeiro dia de campanha do 2º turno, candidato tucano repete críticas ao partido do adversário Fernando Haddad

BRUNO BOGHOSSIAN - O Estado de S.Paulo


A campanha de José Serra (PSDB) no 2.º turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo pretende explorar na propaganda de TV e com a distribuição de material impresso o julgamento do núcleo político do mensalão - ligado ao PT de seu adversário, Fernando Haddad. No primeiro dia da nova etapa da campanha, Serra defendeu o debate sobre o escândalo e acusou os petistas de tentarem "abafar" a repercussão do tema durante a disputa.

"O PT vai querer usar essa eleição para abafar a questão do mensalão. O mensalão está presente no noticiário e no dia a dia, então por que haveria de estar fora de uma campanha? De forma nenhuma", disse o tucano ontem, após caminhada na região da Vila Formosa, zona leste da cidade.

O foco dos tucanos no início do 2.º turno é a decisão sobre José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil acusado pelo Ministério Público Federal de comandar o esquema de compra de votos de parlamentares no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No 1.º turno, a campanha de Serra tentou atrelar a imagem de Dirceu a Haddad em campanhas na televisão e em 1 milhão de panfletos distribuídos na véspera da votação.

Serra mantém seu foco sobre o julgamento do mensalão, sob o pretexto de fazer uma campanha baseada em "valores". Ontem, em entrevista à rádio Jovem Pan, o tucano tentou derrubar o slogan de Haddad, que é apresentado como o "novo".

"Fala-se muito de novidade no Brasil. A grande inovação hoje em dia é a corrupção levando gente à cadeia, é a impunidade que começa a acabar. Não tem (novidade) maior para quem está atrás de novidade na vida pública brasileira", disse. "É evidente que na questão nacional há um mal que não pode ser ignorado, que é a questão da ética, da verdade, da corrupção. É tratar governo como se fosse propriedade privada."

Na disputa entre PSDB e PT no 2.º turno, Serra vai adotar um discurso baseado na ética, com o objetivo de ligar os petistas a casos de corrupção. "Quem fala do mensalão é a imprensa, é a opinião pública, são as pessoas que eu encontro na rua. A campanha não é realizada fora do planeta Terra e fora do nosso País, então é um assunto que naturalmente aparece", afirmou.

Estratégia. Em uma reunião marcada para hoje, a equipe de Serra vai exigir dedicação exclusiva à campanha do tucano dos vereadores eleitos e dos candidatos derrotados da coligação. Cada um terá o papel de distribuir material gráfico e contratar cabos eleitorais a favor de Serra em um bairro da cidade.

Os tucanos também buscarão o apoio de vereadores eleitos por partidos que possivelmente apoiarão Haddad, como o PMDB e o PRB. Com a estrutura desses novos parlamentares, a equipe de Serra pretende conquistar eleitores de Gabriel Chalita (PMDB) e Celso Russomanno (PRB).

Os tucanos darão prioridade às "zonas volúveis" - bairros cujo eleitorado tradicionalmente oscila entre candidatos do PSDB e do PT. Essas regiões são consideradas fundamentais para uma vitória no 2.º turno, quando o candidato precisa atingir 50% dos votos da cidade.

A equipe de Serra acredita que o tucano tem um potencial maior de votos nessas áreas, uma vez que seu desempenho já foi satisfatório na região do centro expandido, tipicamente simpático aos candidatos do PSDB. Nas zonas volúveis, Serra teve 27% dos votos no 1.º turno, ante 30% de Haddad e 23% de Russomanno.

No centro, onde 42% dos eleitores escolheram o candidato do PSDB, a campanha também será intensificada, mas apenas com o objetivo de melhorar o desempenho do tucano. A equipe de Serra espera absorver naturalmente os simpatizantes de Gabriel Chalita (PMDB) na região. Eles acreditam que esse eleitorado tem um perfil afinado com o PSDB, mas se afastou de Serra no 1.º turno em busca de um nome novo.

Em reunião na noite de domingo, a equipe tucana fez uma avaliação de que é possível "recuperar" parte desses votos de uma maneira natural, apenas mantendo um discurso com foco na ética e em realizações.

Na periferia, os aliados de Serra pretendem organizar ações pontuais para evitar que Haddad abra uma vantagem significativa. A ideia é tentar mostrar ao eleitorado mais pobre que as ações tocadas pelo tucano quando esteve à frente da Prefeitura e do governo do Estado beneficiaram sobretudo a população mais carente e as regiões mais distantes do centro. "Se você for olhar objetivamente, nós fizemos muito mais pela periferia mais distante do que o PT no seu governo", disse Serra ontem.

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