Bebida alcoólica pode ser proibida em postos


FELIPE TAU - Jornal da Tarde

Os postos de gasolina da cidade de São Paulo podem ser proibidos de vender bebida alcoólica. É o que prevê projeto de lei que tramita na Câmara Municipal e está pronto para ser votado em plenário. O objetivo da proposta é reduzir os acidentes de carro provocados pelo consumo excessivo de álcool e coibir o barulho dos grupos que se reúnem para beber nesses estabelecimentos.

Os postos estariam no foco da medida pela facilidade de motoristas terem acesso a bebidas alcoólicas nesse tipo de estabelecimento. Segundo dados do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), cerca de 50% dos 2 mil postos da capital têm lojas. A bebida alcoólica costuma ser o produto mais vendido, representando 20% do faturamento dessas lojas, em média.

“Eles oferecem estacionamento gratuito e em grandes pátios, além do fato de se poder consumir de imediato uma bebida alcoólica ali”, disse o vereador Floriano Pesaro, líder do PSDB na Câmara, e autor do projeto.

O designer Paula Ankier, de 23 anos, também acha que a facilidade que os postos oferecem é um atrativo para os irresponsáveis. “O motorista que encosta para comprar tem uma grande tendência de sair embriagado. Se o lugar não vender, ele pode desistir de beber”, afirma ele, que costuma abastecer em um posto na Lapa, zona oeste, onde grupos se encontram no local para beber.

Cliente do mesmo posto, o engenheiro civil Filipe Souza, de 23 anos, acha a proposta inócua. [IP8,0,0]“Se a pessoa quiser beber e depois dirigir, vai comprar em qualquer lugar”, argumenta ele, que costuma se reunir com amigos em postos de combustível.

Funcionária do estabelecimento visitado pelo Jornal da Tarde ontem, a vendedora Adriana Aparecida Diniz, de 31 anos, concorda com Souza. Argumenta que muitos dos frequentadores do local compram a bebida fora de lá. “As pessoas têm que ter consciência. Além disso, não adianta só proibir, porque 30% dos jovens que se reúnem aqui já trazem a bebida de outro lugar.”

O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Mauro Augusto Ribeiro, acredita que a proibição da venda de bebida alcoólica nos postos seria um recado para a sociedade. “É preciso ter controle maior sobre pontos de venda e consumo de álcool. Associar direção e álcool não dá”, afirma. Ribeiro reforça seus argumentos com dados sobre mortes no trânsito: “80% dos acidentes ocorridos entre 0h e 6h são causados por pessoas alcoolizadas.”

Já o presidente do Sincopetro, José Alberto Paiva Gouveia, defende que a embriaguez ao volante não é problema dos postos. “Proibir o posto e, ao lado, ter um bar ou um supermercado vendendo, é ser muito drástico com uma categoria só”, queixa-se. “Essa lei não é a salvação da pátria. É preciso fazer legislação mais dura para quem for pego bebendo parar de dirigir”, defende.

O vereador afirmou ontem que pretende pedir para o projeto ir à votação em plenário ainda hoje. A proposta, em tramitação desde agosto de 2011, já passou por duas comissões e foi aprovada por ambas. O vereador diz que ela foi baseada em estudos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

O texto prevê multas de R$ 2 mil a R$ 12 mil aos postos flagrados pela fiscalização, de acordo com seu faturamento. Na primeira reincidência, o valor da multa dobra e o estabelecimento fica fechado por 30 dias. Na segunda, o local tem o alvará cassado.

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