Leitores sabem que desconfio da candidatura Serra. Não porque lhe falte competência para ser prefeito. Mas porque lhe falta vontade, afinal seu projeto é o Planalto. Parece que ele tem o entusiasmo de quem, por falta de alternativa, está casando de novo com a ex-mulher. Já não via vontade na sua eleição passada e foi o que me motivou, durante a sabatina na Folha, a lhe entregar um documento se comprometendo a não deixar a prefeitura.
Mas a Virada Cultura é uma bela sacada de José Serra por expressar, pelo menos nisso, uma visão de cidade.
Ontem colhi dados sobre como será a Virada Cultural deste ano. E a ideia é fechar ainda mais ruas, ocupando com mais arte, especialmente a região da Cracolândia. O minhocão deve se transformar, pelo menos naquela madrugada, num parque das artes. Estão convidando até renomados chefs de cozinha para mostrar seu talento cozinhando no minhocão (mais detalhes aqui).
Boa parte da força da ideia foi levar as pessoas a olhar o centro, tão abandonado.
Nenhum evento consegue tirar tanto para fora a criatividade da cidade, contida pelos muros, como a Virada Cultural. A cidade suja, violenta, feia, dominada pelos carros, é tomada por seus habitantes a pé.
O que me toca é ver que, naquela madrugada, está o melhor do que São Paulo pode ser. É quase uma utopia de cidade, movida pelo conhecimento.
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Em colaboração com o Media Lab, do MIT, desenvolve em São Paulo um laboratório de comunicação comunitária. É morador da Vila Madalena.
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