Kassab já descarta apoiar candidatura de Serra em SP


Em conversas reservadas, prefeito tem dito que aliança com o PT avançou


ADRIANA VASCONCELOS e GERSON CAMAROTTI - Globo.com
17/02/2012

Interlocutores do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, confirmaram nesta quinta-feira, em conversas reservadas, o que parte do tucanato já desconfia: o fundador e presidente do PSD não tem mais como apoiar uma eventual candidatura do ex-governador José Serra à prefeitura paulistana. Kassab teria aproveitado a audiência que teve quarta-feira com a presidente Dilma Rousseff para sinalizar neste sentido.

O encontro com Dilma já foi interpretado, dos dois lados, como um gesto de Kassab de que, mesmo se Serra mudar de posição, será tarde para recuar do movimento de aproximação com o ex-presidente Lula.Antes de iniciar as negociações com o PT, Kassab procurou Serra. Na conversa, presenciada pelo ex-senador Jorge Bornhausen, perguntou sem rodeios sobre as chances de Serra disputar sua sucessão. A resposta do ex-governador foi taxativa:

- Em nenhuma hipótese.

Kassab, então, avisou que buscaria outras opções para a disputa municipal, já que não pretendia apoiar nenhum dos quatro pré-candidatos do PSDB. Foi neste momento que o prefeito decidiu retomar as conversas com Lula, que já vinha sinalizando interesse em atrair o PSD para o palanque do candidato petista e ex-ministro Fernando Haddad.

A avaliação no PSD é que as negociações com o PT já avançaram demais e que Kassab não poderá mais voltar atrás, embora ainda evite declarar isso abertamente. Tanto que, numa conversa nesta quinta-feira, Kassab mostrou-se cauteloso para um interlocutor. Disse que, se Serra sair candidato, o ex-governador poderá contar com o apoio dele e explicou que estava fazendo todas as negociações com transparência.

Na mesma conversa, Kassab disse que entende e considera natural a resistência de setores do PT a seu nome - mais um sinal de que ainda aposta nesta aliança. E voltou a insistir que sem Serra e sem a candidatura do vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD), o caminho estaria aberto para a aliança com o PT. Por fim, disse que não conversou com Serra nos últimos dias, e que por isso não saberia dizer se o tucano seria candidato.

Mas o discurso do prefeito para selar a aliança com os petistas já está na ponta da língua. Mesmo que Serra confirme sua candidatura, Kassab deverá argumentar que, se voltar atrás nas negociações com o PT, perderá a confiança do próprio partido.

- Kassab foi o arquiteto, o engenheiro e o eletricista do PSD. Não pode jogar tudo na lata do lixo por conta de uma amizade com o Serra. Se ele recuar, liquida o partido - resumiu um dos mais próximos interlocutores do prefeito.

Kassab também levará em conta, em sua decisão, o futuro do PSD. Ele aposta que poderá ter mais sucesso se engajando numa eventual reeleição da presidente Dilma do que numa aliança com o PSDB em 2014, devido ao racha entre Serra e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Kassab já teria sido alertado também para fato de que seu apoio à uma eventual candidatura de Serra carimbaria imediatamente seu partido como mais um integrante da oposição, contrariando grande parte da bancada federal conquistada pelo PSD.

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