Museu de Arte Contemporânea de SP se instala em sua nova casa


E passa a ocupar prédios projetados por Niemeyer na região do Ibirapuera

MÁRCIA ABOS - O Globo
28/01/12 

Uma das salas de exposições do novo Museu de Arte Contemporânea de São Paulo
MICHEL FILHO / AGÊNCIA O GLOBO

Uma das mais importantes coleções de arte moderna e contemporânea da América Latina ganha neste sábado uma sede à sua altura: o acervo do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo se instala no antigo prédio do Detran, no Ibirapuera.

Antes dividido em duas sedes, uma na Cidade Universitária, outra numa parte do pavilhão da Bienal, o acervo pouco conhecido de quase 10 mil obras — contando a coleção de quase 2 mil do Banco Santos, atualmente sob a guarda do MAC — será transferido aos poucos para um complexo de quatro edifícios, num espaço de mais de 44 mil metros quadrados, que inclui dois prédios criados por Oscar Niemeyer em 1954 e dois novos edifícios, construídos durante a reforma para abrigar a reserva técnica do museu.

— Estabeleci que, se o MAC vinha para uma nova sede, num edifício da melhor fase do melhor arquiteto brasileiro, as primeiras exposições deveriam apresentar a coleção do museu, justamente para reuni-la e mostrar ao grande público sua grandeza e valor — diz Tadeu Chiarelli, diretor do museu, informando que a entrada na nova sede será gratuita.

Foram quase quatro anos de reformas antes de o público conhecer uma das principais obras de Niemeyer, projetada originalmente para sediar a secretaria de Agricultura, ocupada até 2009 pela burocracia. Hoje a posse do complexo será doada oficialmente à USP pelo Governo do Estado de São Paulo. Um final feliz após mais de meia década de impasses, entre eles o ambicioso projeto de reforma, feito pelo próprio Niemeyer e barrado pelos órgãos de preservação do patrimônio histórico, e divergências entre USP e governo.

A primeira exposição

Amanhã será aberta ao público a primeira exposição na nova sede, "O tridimensional no acervo do MAC: uma antologia", com 17 esculturas de artistas brasileiros e estrangeiros criadas entre 1947 e 1997: um contraste com a visão de dois ícones do modernismo localizados a poucos metros do novo MAC: o "Monumento às bandeiras", de Brecheret, e o "Mausoléu aos heróis de 1932", de Emendabilli.

— Quis que a primeira exposição fosse capaz de introduzir ao público o debate que a arte contemporânea estabelece com os cânones modernistas, desconstruindo valores profundamente arraigados como o culto aos heróis e as dimensões monumentais — explica o diretor.

O cronograma prevê que até o final de 2012 todo o espaço expositivo esteja ocupado, criando um conjunto reflexivo sobre a história do museu, que completa 50 anos em abril de 2013, e projetando seu futuro na nova sede. O complexo terá ainda duas lanchonetes, uma livraria, uma biblioteca e um restaurante panorâmico no oitavo andar, cujo funcionamento será independente do horário de visitação.

— Mesmo que quiséssemos, não seria possível montar em janeiro todas as exposições. Mas isso foi produtivo, pois tirou da implantação esse aspecto de espetáculo, de grande evento mundano-cultural que se esvazia logo após a inauguração. Esta não é a tônica do MAC, cuja singularidade é estar ligado a uma universidade — afirma Chiarelli.

O impasse nas negociações só terminou no fim de 2011, quando a secretaria de Cultura do estado decidiu doar o complexo para a USP, que pôde estabelecer sua própria agenda para ocupá-lo. Feita a doação, a universidade será responsável pelas despesas de operação, estimadas em R$ 15 milhões ao ano.

Entre abril e maio está prevista a inauguração de três novas exposições de artistas contemporâneos com forte presença no acervo do MAC. São recortes monográficos das obras do artista argentino Leon Ferrari, do gaúcho Rafael França, e do espanhol Julio Plaza.

Outras duas mostras nos mesmos moldes devem ser abertas em julho, dos brasileiros Di Cavalcanti (1897-1976), modernista com mais de 500 obras no acervo, e José Antônio da Silva (1909-1996). A coletiva "Autoria em debate" está prevista para o mesmo mês, reunindo obras que contestam o conceito do artista como autor único. Em agosto, no mezanino do anexo, será aberta uma mostra de fotografias inéditas de Mauro Restiffe, que, a convite do MAC, documentou os últimos meses da reforma do prédio de Niemeyer; no anexo, Carlito Contini ocupará o térreo com uma grande instalação feita especialmente para o museu.

Em outubro, uma grande coletiva fará uma interpretação, através do acervo do MAC, da arte dos séculos XX e XXI. A mostra inclui obras inéditas de vários artistas brasileiros, convidados a criar obras que dialoguem com peças fundamentais da coleção do museu.

— Essa implantação paulatina nos permitirá desenvolver nosso projeto, de forte base pedagógica — conclui Chiarelli.

Comentários