Apoiado por DEM e PPS, mensaleiro disputa prefeitura


Josias de  Souza - Folha.com

O diretório do PT na cidade de Osasco (SP) havia pendurado em seu site, na semana passada, um convite enigmático.

As “principais lideranças” do município foram instadas a comparecer a “um encontro especial” com três expoentes do petismo local.

São eles: o prefeito Emídio de Souza, o deputado federal João Paulo Cunha e o deputado estadual Marcos Martins.

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Marcou-se o dia (5 de dezembro), a hora (18h) e o local: Colégio Nossa Senhora da Misericórdia.

A ilustração do convite insinuava uma confraternização de fim de ano: “Bom Natal e Feliz 2012”. Deu-se coisa bem diferente.

O encontro realizado na escola com nome de santa serviu para oficializar a candidatura de João Paulo Cunha a prefeito de Osasco.

Réu no processo do mensalão, à espera de julgamento no STF, João Paulo vai à disputa de 2012 escorado numa coligação de duas dezenas de partidos.

Frequentam o rol de apoiadores do candidato-mensaleiro legendas governistas como PMDB, PSB, PCdoB, PDT, PR, PP e um interminável etc.

João Paulo é apoiado também –espanto (!), surpresa (!!), estupefação (!!!)— por um par de legendas oposicionistas: DEM e PPS.

Curiosamente, o principal antagonista de João Paulo deve ser Celso Giglio, do PSDB. Quer dizer: em Osasco, DEM e PPS preferem o petismo ao tucanato.

Aos olhos de um observador comum, o PT flerta com o risco ao optar pela candidatura de João Paulo na quinta maior cidade do Estado de São Paulo.

O STF cogita julgar o processo do mensalão no início do ano que vem. Se condenado, o candidato temerário viraria um postulante tóxico.

O PT parece trabalhar com duas hipóteses: ou dá de barato que João Paulo será inocentado ou avalia que o Supremo não vai se pronunciar antes da eleição.

Desde que foi pilhado com as mãos nas valerianas botijas do mensalão, João Paulo já enfrentou as urnas duas vezes. Retornou à Câmara em 2006 e 2010.

No início do ano, tentou voltar também à presidência da Câmara, cargo que ocupara entre 2003 e 2005, no alvorecer do primeiro reinado de Lula.

Como a desfaçatez parecia demasiada, João Paulo retirou-se da disputa. Antes, negociou uma compensação.

Foi guindado pela bancada de deputados do PT à poltrona do maior e mais importante colegiado da Câmara: a Comissão de Constituição e Justiça.

Agora, João Paulo tenta refazer atenuar a biografia alçando um inusitado voo rumo ao Executivo municipal.

Se não for abalroado por uma decisão adversa do STF, são reais as chances de êxito do deputado.

No ano passado, servindo-se da leniência do eleitor, João Paulo foi o deputado federal mais votado de Osasco, um dos petistas que mais amealhou votos no Estado. 

Vingando os planos do PT, confirma-se o vaticínio de Delúbio Soares: o mensalão vai virar "piada de salão."

Foto de Antônio Cruz, da Agência Brasil.

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