De gravata italiana, Matarazzo viaja de trem para viabilizar candidatura


O expediente oficial já estava encerrado quando o secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Andrea Matarazzo, saiu de seu gabinete para encarar quase quatro horas extras de trabalho.

Era uma quinta-feira. Pouco depois das 19h, ele deixou a sala espaçosa do complexo cultural da Estação Júlio Prestes, no centro de São Paulo, rumo à Estação da Luz, a pé.

Com terno azul marinho, gravata italiana e abotoaduras de ouro nos punhos da camisa, atravessou o deteriorado centro da cidade. Seu destino final era Cangaíba, na zona leste da capital.

Eduardo Anizelli/France Presse 
O secretário de Cultura e pré-candidato do PSDB à Prefeitura, Andrea Matarazzo, no trem sentido Zona Leste

No trem, fez uma baldeação no Brás. Nas duas viagens, vagões lotados. "O segredo é não correr para sentar", diz. "O empurra-empurra é para pegar um banco."

Matarazzo é um dos quatro pré-candidatos do PSDB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab. Disputa com José Aníbal, Bruno Covas e Ricardo Trípoli o apoio dos militantes tucanos.

Há dois meses passou a usar com regularidade trem e metrô. Diz que foge do trânsito e chega mais rápido aos bairros que visita para pedir apoio nas prévias do PSDB, previstas para janeiro.

Ele nunca disputou uma eleição, mas tem jeito para falar no palanque e tem procurado se informar sobre os problemas da cidade.

Conhece bairros longínquos e suas lideranças comunitárias e sabe itinerários de ônibus de cor.

"Um ônibus da Cidade Tiradentes para o centro leva 2h15 minutos e para 72 vezes", conta Matarazzo. "Ele chega ao destino lotado como saiu e dá voltas para andar sempre com capacidade máxima. É péssimo para os passageiros e tem de mudar."

Os críticos do secretário, um empresário que faz parte de uma família que no passado foi uma das mais ricas do país, acham que sua imagem o afasta de parte do eleitorado, em especial, da periferia.

Comentários desse tipo o irritam. "Eu ando assim, as pessoas me conhecem. Não vou criar um personagem."

Sua visita a Cangaíba foi bem-sucedida. Havia 66 cadeiras na sala, todas foram ocupadas, e 22 pessoas ficaram em pé. Andrea falou durante mais de 50 minutos. Foi especialmente assediado pelas mulheres. "Ele é muito lindo", disse uma senhora de 56 anos.

Ele mantém relações próximas com expoentes do PSDB paulista, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Geraldo Alckmin.

É especialmente ligado ao ex-governador José Serra, de quem é amigo pessoal.

A relação de lealdade ao ex-governador desperta desconfiança no PSDB.

Muitos acham que ele só entrou na disputa partidária para guardar lugar para Serra, caso ele decida ser o candidato do partido à prefeitura. Serra nega a intenção.

Em seu primeiro cargo público, foi presidente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) no governo de Mário Covas. No governo FHC, foi ministro da Comunicação Social. Em 2001, foi nomeado embaixador na Itália. Voltou em 2002 para a primeira campanha de Serra à Presidência da República.

Tomou gosto pelo governo paulistano em 2005, como subsecretário da Sé, quando Serra voltou à cena política como prefeito paulistano.

Travou batalhas com ambulantes e tentou fazer deslanchar o projeto da Nova Luz, até hoje inconcluso.

Foi chamado de "higienista" por ações como a construção de rampas em viadutos, as "rampas antimendigo".

"Os que me chamaram de higienista pertencem ao grupo que hoje diz que é preciso tratar a cracolândia com polícia. Eu defendo internação e tratamento", diz, alfinetando o pré-candidato do PT à prefeitura, ministro Fernando Haddad (Educação).

Questionado sobre a desocupação da reitoria da USP, Haddad disse que a universidade não deveria ser tratada como se fosse a cracolândia.

Na gestão de Gilberto Kassab, Matarazzo coordenou as subprefeituras. Notabilizou-se pelo combate a bingos e prostíbulos de luxo e à pirataria. Ganhou fama de xerife da cidade e acabou enciumando o prefeito.

O desconforto aumentou quando Kassab disputou a reeleição contra Alckmin, em 2008, e Matarazzo, mesmo na prefeitura, ficou ao lado do tucano. Meses depois, viu-se obrigado a pedir demissão.

Hoje no governo estadual, Andrea tenta se viabilizar como nome capaz de unir serristas e alckmistas.

Também evita criticas a Kassab, que trabalha para aliar sua sigla, o PSD, ao

PSDB. Matarazzo acredita que pode ser a chave dessa conciliação.

Mas para isso precisa vencer as prévias e a desconfiança de parte dos tucanos.

"O senhor pediu nosso voto mas quero saber se vai nisso até o fim?", perguntou um militante que foi ouvi-lo na reunião em Cangaíba.

"Vou até o fim. Em respeito a todos que estão me ajudando. A não ser que vocês não queiram", respondeu Matarazzo, aos risos.

Eduardo Anizelli/Folhapress 
Matarazzo caminha para a estação da Luz, onde pega trem para Zona Leste

Fonte: Daniela Lima - Folha.com

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