Pedro Novais acerta demissão com Henrique Alves e substituição gera queda de braço com Sarney


 O ministro do Turismo, Pedro Novais, redigiu nesta quarta-feira sua carta de demissão, segundo informa o colunista Ricardo Noblat no Twitter .

A saída do peemedebista do cargo foi motivada por denúncias publicadas contra o ministro na imprensa. Na terça-feira, o jornal "Folha de S. Paulo" publicou uma reportagem na qual mostra que, entre 2003 e 2010, quando ainda era deputado, Novais pagou o salário de sua governanta com dinheiro público . Com a iminente saída de Novais, já são cinco os ministros que deixaram o governo Dilma: Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa) e Wagner Rossi (Agricultura). A presidente ainda promoveu a troca de Ideli Salvatti, agora nas Relações Institucionais, por Luiz Sérgio que foi para Pesca.

Uma nova denúncia publicada no jornal nesta quarta-feira agravou a situação do ministro. Segundo a reportagem, a mulher do ministro usava irregularmente um servidor da Câmara como motorista particular .

Deputados ligados a Henrique Eduardo Alves e Sarney são cogitados para substituir Novais

O próprio PMDB já avalia que a situação do ministro se tornou insustentável diante das novas denúncias publicadas contra ele nesta quarta-feira. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, foi ao ministério conversar com Novais. Agora, ele só espera o vice-presidente Michel Temer, que está em São Paulo, chegar a Brasília para bater o martelo. Segundo ele, Temer está preocupado com a repercussão negativa das denúncias. Sem o apoio do próprio partido, a expectativa é que o ministro entregue a carta de demissão nas próximas horas. Henrique está nesse momento ajudando Pedro Novais a redigir seu pedido de demissão.

O substituto deve ser do PMDB. O nome preferido de Alves é o do deputado Marcelo Castro, do Piauí. A preferência do presidente do Senado, José Sarney, é pelo deputado Gastão Vieira, do Maranhão.

Sem consenso sobre os nomes, outros dois estão em discussão: Lelo Coimbra (ES) e o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Moreira Franco.

- O Henrique teve uma reunião tensa com a bancada e tentou sair de lá com uma carta branca, alegando que podia ter que indicar logo e não daria tempo de consultar o partido. Ele defendeu o Marcelo Castro, mas Dilma não quer de jeito nenhum porque o irmão dele aparece nos grampos da Polícia Federal na Operação Voucher. Sarney quer Gastão, mas a bancada está chiando e não aceita porque diz que a vaga é da Câmara. Então pode sobrar para Lelo - contou um dos deputados que participou da reunião com Henrique agora há pouco.

Segundo o parlamentar peemedebista, já está tomada a decisão de tirar Pedro Novais. Só falta ver como fazer.

- Agora estão tentando uma saída para preservar o pequenininho. Mas o partido tem que agir depressa e apresentar um nome de consenso, senão Dilma toma logo uma providência e tira a vaga do PMDB.

- É um noticiário desconfortável, não posso negar. Tem que ter uma resposta cabal do ministro - avaliou Alves.

O líder, no entanto, evitou falar em saída:

- Ele é quem vai sentir. É um homem experiente.

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), esteve reunido com a presidente Dilma Rousseff nesta manhã. Estava acompanhado do governador de Rondônia,Confúcio Moura. Ele disse que não tratou com Dilma sobre o futuro de Novais.

Raupp considerou graves as denúncias de que o ministro manteve uma empregada doméstica custeada pela Câmara. Mas preferiu não acusar seu companheiro de partido.

- Vamos sentar hoje à tarde e aguardar os esclarecimentos. Da outra vez, ele prestou esclarecimentos, que foram importantes - disse, em relação às denúncias de que ONGs mantinham contratos milionários com o Ministério do Turismo, mas não prestavam trabalho.

O senador disse, porém, que até agora Novais não procurou o partido para conversar - exceto o líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Para o presidente do PMDB, uma denúncia contra um filiado do partido não pode comprometer a legenda toda.

- A legenda é muito grande para querer generalizar um caso ou dois.

Novais vinha se segurando no governo apesar de bombardeado por denúncias de desvio de verbas da Câmara antes mesmo de assumir o cargo, e depois de irregularidades graves na pasta.

Pela manhã, a presidente Dilma Rousseff falou sobre a situação de Novais. Ela vai pedir explicações para tomar as medidas cabíveis. A presidente deu uma entrevista de cerca de 25 minutos antes de participar da abertura do Seminário de Gestão de Compras Governamentais em um hotel de Brasília. Ao ser perguntada sobre a situação do ministro, ela disse:

- Primeiro, a gente pede as explicações cabíveis. Eu voltei hoje de São Paulo. Vamos encaminhar isso, avaliar qual é a situação e tomar as medidas cabíveis de forma muito tranquila.

A presidente afirmou que Pedro Novais não a procurou para se explicar sobre denúncias:

- Ele não me deu explicação até porque eu não estava aqui.

Confirmada a queda de Novais do cargo, será o segundo ministro do PMDB a deixar um ministério em meio a denúncias. No dia 17 de agosto, o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, pediu demissão diante da notícia de que ele e um de seus filhos - o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP) - costumavam fazer viagens particulares em avião emprestado por uma empresa do ramo do agronegócio com interesses na pasta. Outro ministro da legenda que também deixou o governo foi Nelson Jobim , mas nesse caso por ter falado demais e ofendido colegas.

Fonte: Gerson Camarotti, Maria Lima e Chico de Gois (opais@oglobo.com.br)

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