Oposição cobra faxina na Agricultura e obriga Dilma a bancar outro ministro


Líderes de DEM, PPS e PSDB querem que presidente enfrente os peemedebistas, seus principais aliados, e estenda limpeza imposta nos Transportes; governo divulga mensagem de apoio a Rossi

Pouco menos de um mês após ter divulgado uma nota em apoio ao então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada neste domingo, 7, a lançar mão do mesmo expediente na tentativa de salvar o chefe da pasta da Agricultura, Wagner Rossi. Essa manifestação pública do Palácio do Planalto é mais um sinal de que a crise política que há três meses envolve o governo federal deverá se arrastar nos próximos dias e, a depender da oposição, vai culminar na demissão de mais um ministro sob suspeita de irregularidades.

Em maio, Dilma já havia defendido publicamente Antonio Palocci, à época no comando da Casa Civil. Mas, assim como Nascimento, ele acabou sendo forçado a deixar o cargo, acusado de desvios éticos. Semana passada, Nelson Jobim perdeu o cargo na Defesa por conta de declarações desfavoráveis ao governo. Agora, Dilma terá de enfrentar problemas com Rossi, ministro indicado pelo principal aliado do PT no governo, o PMDB do vice-presidente Michel Temer.

"A presidente Dilma Rousseff reitera sua confiança no ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que está tomando todas as providências necessárias", afirmou a Secretaria de Imprensa.

A oposição cobrou ontem da presidente uma "faxina" no Ministério da Agricultura, nos mesmos moldes da feita na área dos Transportes. Para os parlamentares oposicionistas, Dilma não pode proteger Rossi simplesmente por ele ser do PMDB e afilhado do vice-presidente. A pressão cresce em função da queda, no sábado, do secretário executivo da pasta, Milton Ortolan, após a revelação de seu envolvimento com o lobista Júlio Fróes.

As evidências de loteamento político e inchaço no ministério devem tornar mais duro o depoimento de Rossi no Senado, ao qual ele irá na quarta-feira. E o ministro inicia a semana mais fragilizado, pois a Controladoria-Geral da União encarregou 12 auditores de um levantamento sobre contratos e convênios do Ministério da Agricultura.

Meta é CPI. O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), disse que o objetivo da oposição é conseguir abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito na qual se consiga investigar denúncias de corrupção nas diferentes esferas do governo. Ele destacou que a postura diferente de Dilma frente às acusações na área de Agricultura confere à atuação dela no caso do Ministério dos Transportes aspectos de jogo de cena.

"O Ortolan é o próprio ministro, é homem de confiança do Wagner Rossi. Eles estão juntos há muitos anos. A presidente tem que dizer se a justiça dela é seletiva porque não dá para dizer que o Rossi está menos comprometido do que estava o Alfredo Nascimento", comparou Demóstenes. Para Duarte Nogueira, líder do PSDB na Câmara, a demissão do auxiliar direto de Rossi reforça a necessidade de investigação. "A demissão é um indício de que há muito mais a ser descoberto e investigado". A intenção dos tucanos é convidar todos os envolvidos nas denúncias a prestar esclarecimentos na Câmara. O PPS, por sua vez, pedirá que Rossi retorne à Câmara e estuda solicitar investigação do Ministério Público sobre as suspeitas de fraudes em licitações na pasta.

Inchaço

Contrariando a determinação do Planalto de corte de custos, o quadro de funcionários do Ministério da Agricultura foi inchado para acomodar apadrinhados. Como não podia se desfazer de técnicos essenciais para a rotina da pasta, a solução para atender aos pedidos de aliados foi ampliar o quadro de "assessores" fazendo com que a pasta batesse recorde em número de funcionários nesta função.

Apesar de ter assumido em abril do ano passado, Rossi começou a alterar a equipe apenas após ser mantido no governo Dilma. Em janeiro, ele trocou Gerardo Fontelles por Milton Ortolan na secretaria-executiva. Mas o manteve no quadro como seu assessor especial. Agora, com a queda do apadrinhado, Rossi tem recebido sugestões para trazer de volta o auxiliar à secretaria. Fontelles é um técnico com larga experiência no setor e seu retorno é visto como uma saída inteligente para o ministro se desvincular do rótulo das indicações políticas. A volta do técnico poderia ajudar também porque há uma expectativa, até no próximo ministério, de que as denúncias na área não terminaram. O ministro, no entanto, passou o final de semana em Ribeirão Preto e ainda não decidiu quem colocará no lugar de Ortolan.

Além da mudança na Secretaria Executiva, Rossi fez outras alterações em cargos-chave da pasta nos últimos meses sem, no entanto, deixar desabrigados os demitidos. Em 18 de maio, o secretário de Política Agrícola (divisão mais importante do Ministério), Edilson Guimarães, cedeu seu cargo a José Carlos Vaz. Mas foi acomodado como assessor na Secretaria de Relações Internacionais e substituído.

No último dia 20, mais uma rodada de mudanças foi feita com esse padrão: exoneração de servidores de carreira, que acabam voltando para os quadros. Desta vez, os atingidos foram técnicos que atuavam no Departamento de Comercialização e de Abastecimento Agrícola e Pecuário: o diretor José Maria dos Anjos e os coordenadores Sávio Pereira e Silvio Farnese. E é com eles que o setor privado ainda prefere conversar quando tem dúvidas a esclarecer. O trio era conhecido por colocar a mão na massa para viabilizar as operações que o ministério realizava, principalmente no apoio à comercialização aos produtores. Além de coordenar a parte técnica das operações, cabia a eles fundamentar a Agricultura para discutir os trâmites técnicos com a Fazenda.

Fonte: Eduardo Bresciani e Célia Froufe - O Estado de S.Paulo


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