Na internet, Lula é personalista e FHC busca discussão



Ex-presidentes têm projetos diferentes na rede, mas número de seguidores no Twitter e audiência de vídeos são semelhantes

Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva protagonizaram disputas históricas nas urnas eleitorais. Após seus mandatos, tendo de usar recursos próprios para manter unidos simpatizantes e admiradores, os dois resolveram apostar na internet como uma das ferramentas para manter viva a discussão política e a agenda de seus pós-governos.

Ambos lançaram sites no mês passado. Lula no dia 15, com a página do Instituto Cidadania. Uma semana depois foi a vez de FHC, que já mantinha na web o site de seu instituto, e inaugurou o Observador Político.

Apesar da proximidade na data de lançamento, os projetos são extremamente diferentes. Lula dedica a página do iCidadania à sua agenda, homenagens e acompanhamento de atividades públicas. FHC, por sua vez, criou uma espécie de portal para a discussão da política no País.

“O site não tem grande pretensão. Ele serve para informar a sociedade sobre o que o presidente Lula está fazendo, divulgar sua agenda. Nosso objetivo atual não é a visitação, é ter um arquivo e registrar as atividades do presidente. Estamos pensando num novo projeto de site para a nova fase do instituto, que vai se chamar Instituto Lula, mas ainda estamos em fase inicial da concepção”, explicou o assessor de imprensa do ex-presidente, José Chrispiniano.

O Observador, de FHC, tem a visitação como uma de suas metas. Isso porque, seu modelo busca o debate político, fazendo com que o conteúdo da página seja sempre interativo e dentro do conceito da web 2.0.

“Temos uma plataforma inédita no mundo, foram cinco meses desenvolvendo-a. Ela é pensada para se comunicar em blog, vídeos e listas de discussões, tudo interagindo com o twitter e com o Facebook. Ele parte do pressuposto que a política se faz em rede e tentamos, através do debate, apontar para frente, entender para onde aponta a nova política, tudo sem censura, mas respeitando o fair-play”, disse Ubiratan Muarrek, que foi o desenvolvedor do projeto.

Nuvem

Com site mais estático, atualização feita com notícias em que o ex-presidente dá sua opinião sobre temas cotidianos, divulga sua agenda e publica alguns artigos de colaboradores, o caráter personalista da página do iCidadania se reflete na nuvem de palavras criada a partir do website, tendo o nome do ex-presidente como maior ativo.


Foto: Reprodução

Quanto maior a palavra na "nuvem", mais ela é repetida no site


Após a palavra “Lula”, a mais citada é o nome do próprio instituto. A África, um dos alvos de Lula para a formulação de políticas sociais em sua carreira pós-presidencial, não é das mais citadas, e fica pequena na nuvem. No caso do observador, e por sua característica de portal de debates, as palavras que mais aparecem são “comentários”, “grupo”, “tópico” e “publicou”.


Foto: Reprodução


"Nuvem" mostra as palavras que mais aparecem no site criado por FHC, O Observador Político


Views e seguidores

Nem o iCidadania nem o Observador revelam o número de visitas de suas páginas. Fora o acesso direto, os números de vídeos assistidos nos respectivos canais do YouTube ou o número de seguidores no Twitter revelam semelhança entre as páginas dos ex-presidentes.

Um exemplo é o vídeo que inaugurou cada um dos websites. O de Lula, no canal do iCidadania, foi visto até agora por 22,9 mil pessoas. Ele ficou à frente de Fernando Henrique, que tem 17,3 mil cliques em seu pronunciamento de inauguração do Observador Político.

Depois da estreia, contudo, uma pequena vantagem foi para o lado de FHC. Ao todo, os filmes postados no canal do iCidadania alcançaram 24,8 mil acessos, os do Observador chegaram a 25,6 mil.

No Twitter também há um certo equilíbrio entre os dois ex-presidentes. O Instituto de Lula tem 1.107 seguidores e segue 48 pessoas, em sua maioria parlamentares do PT e diretórios do partido. De seu lançamento até o fechamento deste texto havia dado 53 tuitadas.

No caso do Observador, de FHC, o perfil no microblog foi acionado 363 vezes, segue 128 pessoas e é seguido por 1.084. O maior número de postagens e de pessoas seguidas se dá pela própria natureza dos projetos de site dos ex-presidentes.

Como as contas não são pessoais, e sim dos institutos, não cabe comparação com o Twitter de outros políticos que saíram do poder. Mas, para ter ideia de como se comportam, o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush alcançou 28,6 mil seguidores tendo usado seu Twitter uma única vez no dia três de junho.

O Twitter de um presidente na ativa, como o de Barack Obama, que usou a ferramenta de maneira intensiva desde sua campanha, conta hoje com 9,6 milhões de seguidores. Uma curiosidade sobre o Twitter de Lula e FHC diz respeito à única pessoa seguida em comum: a deputada do PC do B, Mauela D’Ávila (RS).

A criação de um Twitter pessoal, contudo, não está na agenda dos ex-presidentes. Lula já se irritou com a ferramenta ao receber o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. Na época, ele disse que não usaria o microblog pois tem de pensar antes de falar. “Muitas vezes não se pensa no twitter, simplesmente se escreve. Por isso não uso, mas respeito quem usa”.

FHC, por sua vez, não possui uma conta pessoal e, segundo o desenvolvedor do Observador, Muarrek, ele não chegou a discutir esse tema com a equipe de seu instituto ou de seu novo site.

Laboratório

O presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, disse ao iG que sites como os de Lula e FHC são sempre bem vindos para a militância. De acordo com ele, o papel dessas páginas é “divulgar os argumentos dos líderes para que os simpatizantes possam defendê-los”.

“Nesse caso, os dois cumprem seu papel. O do FHC ganha com a interatividade, e acredito que em breve o site do Lula vai ter que investir na interatividade também, que é uma característica da internet. Mas a pergunta é: ‘Quem acessa quer interagir ou só receber os argumentos para defender seu líder?’. Ainda precisamos de mais alguns anos para responder essa pergunta no Brasil.”

Fonte: Severino Motta - iG

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