Lula ‘tratora’ PT e tenta tirar Marta de disputa


Ex-presidente trabalha para que senadora desista de candidatura em prol de Haddad

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deflagrou na segunda-feira, 22, a operação para emplacar o ministro Fernando Haddad (Educação) candidato a prefeito de São Paulo sem a necessidade da realização de prévias eleitorais no PT. Em termos práticos, a manobra significa principalmente retirar a senadora Marta Suplicy da disputa.

Lula recebeu na segunda, separadamente, quatro pré-candidatos petistas - o senador Eduardo Suplicy não foi chamado. A eles defendeu o que fala nos bastidores: o PT precisa de "discurso novo" e de "proposta inovadora" se quiser vencer no maior colégio eleitoral do País. Foi a senha de que não quer Marta candidata.

A senadora foi a última a conversar com Lula. O ex-presidente não pediu a ela que retirasse seu nome da disputa. Mas tangenciou o assunto ao dizer, sem meias palavras, que achava melhor um "nome novo". Ao deixar o encontro, Marta chegou a admitir que "a ideia de uma cara nova pode até ser boa". Afirmou, no entanto, que pretende levar adiante a sua pré-candidatura.

"Eu falei que achava importante ouvir a opinião dele, mas que achava que era a pessoa com mais condição de disputa. Ele também não discordou. Ele tem uma teoria toda dele. Mas foi extremamente respeitoso", disse Marta ao deixar o encontro com Lula no Instituto Cidadania.

A senadora reuniu-se na quinta-feira passada com a presidente Dilma Rousseff. De acordo com relato de petistas, a presidente teria sido direta. Disse a Marta que precisa dela no Senado para colaborar com o governo, principalmente no momento de fragilidade da base. Também não teria dado espaço para negociar um prêmio de consolação, como um ministério.

Na segunda-feira Lula reeditou a tese do Senado. Disse a Marta que era uma posição muito importante e lembrou que perdeu candidatos a governador na eleição de 2010 para eleger senadores da base.

Apesar das negativas da senadora, há na cúpula petista a expectativa de que Marta desista da disputa. A avaliação é que a ex-prefeita não levará adiante um projeto à revelia de Lula e Dilma. No final de semana, ela sequer participou das reuniões internas do PT municipal em bairros da capital para discutir pauta das eleições. Na segunda, disse ter sido feito um "escarcéu" ao relacionar a ausência nas reuniões à retirada da pré-candidatura.

Sintonia. Antes de receber Marta, Lula conversou com Haddad e com os deputados Carlos Zarattini e Jilmar Tatto. O ministro deixou o encontro afirmando não trabalhar com a hipótese de desistência de Marta "neste momento". "Estamos sintonizados", completou.

Com os deputados, Lula não condenou as prévias, mas as classificou como um mecanismo perigoso. Citou como exemplo a eleição para o governo do Rio Grande do Sul em 2002, quando Tarso Genro e Olívio Dutra concorreram pela indicação. O PT rachou e foi derrotado.

Segundo interlocutores, Lula não vê como problemáticas as pré-candidaturas de Tatto e Zarattini. Avalia ser possível acordo com os dois mais para frente.

Nas conversas com os quatro pré-candidatos, falou da construção de um leque amplo de alianças, a exemplo do que dá sustentação ao governo. Disse querer contar com o apoio do PMDB no segundo turno, já que o partido diz que terá candidato.

Afirmou que o candidato do PSDB em 2012 não será José Serra. Como o tucano mira o Planalto em 2014, disse Lula, não se aventuraria por um cargo que teria de renunciar, assim como fez ao deixar a Prefeitura em 2005 e o governo do Estado em 2010. Marta disse discordar da avaliação.

Fonte: Julia Duailibi / Colaborou Gustavo Uribe - O Estado de S.Paulo 

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