Drogas: questão de saúde pública - Artigo de Andrea Matarazzo


Desde que entrei na Subprefeitura da Sé e depois como secretário de Subprefeituras, acompanho o grave problema da dependência química na nossa cidade, evidenciada na Cracolândia. Em um estudo local, que fiz com Floriano Pessaro - na época secretário de Ação Social -, percebi que não basta coibir o tráfico por meio da polícia. 

Ao observar os dependentes que vagam na Luz, é visível que perderam o discernimento. Por isso é positiva a ideia da Prefeitura de, em casos graves, fazer a internação compulsória. O tratamento de viciados é tão fundamental quanto o combate ao tráfico, mas, na área médica, são escassas as ações públicas para a recuperação de dependentes. Também é preciso investir em campanhas preventivas fortes, que estigmatizem as drogas. É uma iniciativa que deu certo com o cigarro, quando Serra foi ministro da Saúde, com a proibição de propagandas, advertência nos maços e campanhas em rádio e TV. 

Ainda não há a consciência de que as drogas tiram a liberdade de seus dependentes, anulando a capacidade de decisão. Quem tem parentes nessa condição e pode pagar pelo tratamento não espera pela escolha deles e interna vítimas de drogas pesadas, e do álcool, mesmo que não queiram. 

No caso de pessoas que abandonaram suas famílias ou foram abandonadas por elas, é o poder público que tem de encaminhar para internação, como qualquer família faria. É uma forma de evitar casos como o de Flávia, que matou o filho viciado em crack, e outros que saem no jornal diariamente de pessoas que perderam a guerra contra o vício.

Há quem discuta a legalidade de uma internação sem consentimento, mas é preciso priorizar a saúde do cidadão. Se por um lado há o combate ao tráfico para acabar a oferta, também é preciso diminuir a demanda de drogas, com campanhas de conscientização e recuperação de dependentes.

Andrea Matarazzo é secretário estadual de Cultura de São Paulo. E-mail: amatarazzo@sp.gov.br 

Fonte: Diario SP

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