Dilma e "Paloccinhos"


Além do rápido e não explicado enriquecimento de Antonio Palocci, a primeira crise de Dilma explicitou a cobiça sórdida da chamada "base aliada".

A começar por gente do próprio PT se engalfinhando por espaços. No PMDB, mais do mesmo.

O que essa "base" procura, como sempre, é posicionar lideranças e comparsas na máquina pública. Assim, podem se multiplicar e colher os frutos, hoje e amanhã, do tráfico de influência.

Até prova em contrário, a presidente Dilma parece ser correta, de fora da politicagem que dilapida o dinheiro público.

Palavras do tucano e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira a Dilma há poucos dias, em artigo na Folha, onde pedia a demissão de Palocci:

"A senhora deixou claro em sua vida pública o compromisso com o bem público; porque não escolheu a vida política para ficar rica ou para gozar o poder em nome do próprio poder, mas para contribuir para a construção de um Brasil mais próspero, mais democrático e menos injusto".

Dilma substituiu Palocci por Gleisi Hoffmann na Casa Civil. Como senadora, Gleisi apresentou vários projetos para acabar com privilégios no Congresso e na máquina federal. Entre eles, a proibição de benefícios vitalícios, fim dos 14º e 15º salários a parlamentares e a regulamentação de um teto para os rendimentos dos servidores públicos.

Mas Dilma também escolheu Ideli Salvatti para coordenar a política (Relações Institucionais). Em seu currículo, a defesa dos acusados no mensalão, do PT nas CPIs dos Bingos e dos Cartões Corporativos e de Renan Calheiros e José Sarney em escândalos que quase lhes custaram os mandatos.

Dilma também fez fortes elogios na saída de Palocci. Como punição, o ex-ministro agora vai emagrecer, viajar e voltar à consultoria.

Assim como Lula, Dilma trabalha pela "governabilidade" ao acomodar os interessados na máquina pública, origem e destino de muitos candidatos a Palocci.

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A última pesquisa Datafolha mostrou estabilidade na popularidade de Dilma: 49% a apoiam, apesar de Palocci e da inflação.

Há duas variações a considerar: queda de 17 pontos entre os que consideram Dilma "decidida" e salto de 10 entre os que veem a inflação como ameaça.

A inflação pega em cheio os mais pobres, maioria no Brasil. O mau humor deles cresceu bem mais do que a média.

Fernando Canzian
Fernando Canzian é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006 e é autor do livro "Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929". Escreve às segundas-feiras na Folha.com.

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