Tucanos defendem ‘café com leite’ para voltar ao Planalto


Três derrotas na corrida presidencial marcadas por disputas entre mineiros e paulistas mostram que é preciso buscar composição

A eleição de 2014 deflagrou a atual disputa interna no PSDB e escancarou as estratégias que os pré-candidatos tucanos construíam com certa cautela nos bastidores, desde o momento em que foi selada a derrota de José Serra na corrida presidencial de 2010.

As negociações para a composição da nova Executiva Nacional, a elite responsável pela máquina e pelas decisões políticas do partido, tornaram-se o campo de batalha onde Serra, o senador Aécio Neves (MG) e o governador Geraldo Alckmin evidenciaram seus cálculos eleitorais.

Das conversas que envolveram Alckmin e Aécio, na semana passada, um argumento foi destacado: infligir uma derrota estrondosa a Serra, na convenção nacional do partido, no sábado, tornaria mais tortuoso o caminho de Aécio à Presidência.

"Se Aécio quer ganhar a eleição, precisa de São Paulo. Já perdemos três eleições por causa de Minas", disse um tucano paulista, ao comentar as últimas três derrotas do PSDB no segundo maior colégio eleitoral do País.

Para os aliados de Aécio, vinga a tese de que é melhor arcar com um eventual ônus de asfixiar Serra neste "começo" de jogo eleitoral do que dar as ferramentas para ele colocar em curso seu projeto de ser o candidato em 2014.

Instituto. Em novembro do ano passado, logo após a derrota, um tradicional colaborador de Serra havia sugerido a ele que se tornasse presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), núcleo de estudos e pesquisas do partido, com um orçamento de R$ 10 milhões.

Serra não aceitou a sugestão. Chegou a brigar com o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), creditando a ele o vazamento da informação.

Nos meses que se seguiram, o tucano não deixou claro qual espaço queria ter na sigla. Para um amigo, ele esperava ser alçado presidente do PSDB, num movimento similar ao de 2003, quando ocupou a vaga meses depois da primeira derrota na eleição.

Mas Guerra já trabalhava pela reeleição. "Serra jogou Sérgio Guerra no meu colo", teria afirmado um senador a um aliado ao comentar o rompimento entre o presidente do PSDB e o ex-governador em fevereiro, quando Serra o acusou de golpe por promover entre tucanos um abaixo-assinado, com a simpatia de Aécio, para se reeleger presidente.

A aproximação da convenção fez Serra repensar a proposta ITV. Mas, nesta altura, Aécio já havia formado o seu bunker e ocupado boa parte dos espaços internos. Articulara o apoio da bancada de senadores tucanos para indicar o ex-senador Tasso Jereissati à presidência do ITV.

Diante da iminência de um racha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrou no circuito para convencer Serra a ocupar uma outra função, a presidência de um Conselho Político a ser criado. Segundo relato de tucanos, Serra teria argumentado, na sexta-feira, que se o conselho é tão bom assim, por que não o oferecem a Tasso?

Alckmin, que mantém relação de altos e baixos com Serra - neste momento, mais em alta -, não via com maus olhos a indicação para o ITV, embora houvesse a preocupação de não ficar com o ônus de uma eventual derrota de Serra. O governador pretende disputar a reeleição em 2014 e, para isso, precisa ter o caminho livre no seu reduto eleitoral. "Alckmin não ganha nada com a chancela precoce do PSDB ao nome de Aécio", resumiu um tucano.

Fonte: Julia Duailibi, de O Estado de S. Paulo





Comentários