Tropa do cheque - Artigo do ITV



Fica cada vez mais clara a falta de convicção do governo quanto à lisura das atividades público-privadas de Antonio Palocci. Só isso explica a escalação de uma verdadeira tropa de choque para blindar o ministro, como a que se viu em campo ontem. O que interessa é garantir que os cheques continuem rolando para os poderosos cofres petistas.

Na semana passada, o alvo da ofensiva governista foi a Câmara, com o fechamento de comissões, arregimentação de leões de chácara para constranger parlamentares da oposição e acionamento do rolo compressor chapa-branca para evitar a aprovação da convocação do ministro. Hoje o campo de batalha deve se transferir para o Senado.

Ministérios e governadores de Estado também viraram joguete nas mãos do poder petista, a fim de proteger o ministro suspeito. Ontem, cinco governadores saíam a campo para defender Palocci. A manifestação não foi de todo desinteressada: os mesmos mandatários também aproveitaram a ocasião para pedir a rediscussão de suas dívidas com a União. Apoio tem preço.

Simultaneamente, para fingir que o governo "está trabalhando e não foi contaminado pelas denúncias", a presidente convocou quatro ministros para reunião no Planalto. O pretexto era discutir o andamento das obras da Copa, calamidade que já vem de longuíssima data. O contexto, porém, era cobrar-lhes fidelidade canina à defesa de Palocci.

Coincidência ou não, os quatro ministros convocados por Dilma Rousseff ontem são os declaradamente "políticos", ou seja, os diretamente indicados pelos seus respectivos partidos em troca de apoio ao governo, como bem observou O Globo: Alfredo Nascimento (Transportes), Carlos Lupi (Trabalho), Mário Negromonte (Cidades) e Orlando Silva (Esportes). Voto tem preço.

Palocci - o mesmo acusado de ordenar a quebra de sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa por causa de uma operação de R$ 24 mil - continua sem explicar o seu show dos milhões. Promete para breve apresentar respostas às perguntas algo vagas que a Procuradoria-Geral da República, considerada "pouco incômoda" na atual quadra, lhe enviou na semana passada.

Se a vida pregressa de Palocci fosse um mar de rosas, até poderia caber-lhe o benefício da dúvida, como advogou ontem o ministro José Eduardo Cardozo. Mas seus negócios mal explicados em Ribeirão Preto, cidade da qual foi prefeito dez anos atrás, continuam sem esclarecimento, flutuando como ectoplasmas.

As negociatas ribeirão-pretanas envolvem suspeita de manipulação de licitação para compra de merenda escolar - só ganhava quem pusesse ervilha misturada no molho de tomate - e desvios reiterados das empresas prestadoras de serviços de limpeza urbana para os cofres petistas. Nada muito diferente, por exemplo, do que está acontecendo em Campinas neste exato momento.

Não é mera coincidência que o PT se veja novamente às voltas com escândalos de subtração de dinheiro público para bolsos partidários - os mesmos que envolveram Palocci em Ribeirão e agora implicam petistas campineiros abrigados na administração do prefeito Hélio dos Santos (PDT).

As fontes são sempre vistosas: prefeituras de gordas arrecadações. Campinas já rendeu até assassinato de um prefeito petista e agora os cupins de lá arremetem contra o cofre da companhia de saneamento local. Estão metidos na encrenca desde o vice-prefeito (petista) até a primeira-dama, além de mais 18 nomes. Amigos do ex-presidente Lula também estão na embrulhada, revela O Estado de S.Paulo.

Para quem pensa que pode ser caso isolado, outra notícia publicada pelo jornal hoje é esclarecedora: "Contra a ofensiva da promotoria criminal que mira aliados importantes do ex-presidente Lula, o PT entrou em cena. No domingo à noite, até o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu desembarcou em Campinas para uma reunião às pressas com vereadores e lideranças do partido".

Palocci e a máfia campineira são faces de uma mesma moeda: a que busca garantir que os cofres do PT sejam permanentemente irrigados para financiar o projeto de poder do partido. Sempre que este projeto está ameaçado, o governo grita alto e manda chamar sua tropa do cheque. Tem sempre um monte de mercenários à disposição.


Fonte: ITV

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