DEM pressiona Alckmin a cumprir acordo, e Afif pode perder secretaria



Vice, à frente do Desenvolvimento Econômico, deixou o partido para acompanhar Kassab no novo PSD; agora seu antigo partido pede a vaga combinada na eleição e deve implodir a histórica aliança entre os grupos do governador e do prefeito

O grupo político que desde 2003 comanda o Estado de São Paulo e a capital paulista desde 2005 vive sua pior crise e pode ser implodido nas próximas horas. Tudo por conta da criação do PSD (Partido Social Democrático) pelo prefeito Gilberto Kassab e de sua aproximação da base de apoio da presidente Dilma Rousseff.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) está propenso a demitir do secretariado o vice-governador, Guilherme Afif, um dos primeiros a anunciar a saída do DEM para seguir Kassab no novo partido. A decisão de Afif provocou imenso incômodo entre tucanos exatamente pelo seu simbolismo político: o vice-governador era o elo da histórica aliança do PSDB com o DEM.

Considerado um dos "fiadores" da coligação PSDB-DEM, Afif está desde a posse à frente da poderosa Secretaria de Desenvolvimento Econômico, pasta que gerencia a rede de ensino técnico do governo paulista, uma das principais vitrines tucanas. Partiu do DEM a exigência para que Alckmin dê espaço político relevante ao partido no governo.

A senha para Alckmin tirar o poder de Afif e deixá-lo como uma figura quase decorativa no cargo de vice foi dada pelo comando nacional do DEM. Nesta quinta-feira, o senador Agripino Maia (RN), presidente nacional do partido, almoçou com o governador e reivindicou o cumprimento dos compromissos estabelecidos quando a aliança eleitoral foi firmada: um secretaria importante para o DEM.

Na conversa, foram discutidas três possibilidades para alojar o DEM. A mais cobiçada pelo partido é ocupar o posto hoje comandado por Afif. A outra, praticamente rejeitada pelo DEM, é a pasta da Agricultura - João Sampaio está saindo do cargo. O governador prometeu, ainda, analisar uma terceira possibilidade. O DEM exige uma vaga com visibilidade e força política. "O espaço do DEM no governo Alckmin é um fato", sentenciou Agripino.

O governador não rechaçou a hipótese de retirar Afif nem a aceitou prontamente. Prometeu uma solução para as próximas horas, mas seus aliados afirmaram reservadamente que ele estaria propenso a aceitar o acordo, aceitando inclusive ceder a pasta de Desenvolvimento Econômico.

Cotado. O nome do DEM mais citado para ocupar um cargo no governo Alckmin é o do deputado Rodrigo Garcia, que apesar de ser muito próximo a Kassab, optou por permanecer na sigla.

A composição de Alckmin com o DEM em seu secretariado também afeta a reorganização da sigla nos diretórios estadual e municipal, enfraquecidos pela saída de Kassab. Para o governador, contar com aliados nas regionais do DEM passou a ser um trunfo para 2012, diante da tensão vivida dentro do PSDB paulistano. Melhor ainda se o nome for um desafeto do prefeito.

Nesse cenário, ganhou força para o comando do DEM paulistano o nome de Alexandre de Moraes, que foi secretário de Justiça de Alckmin e de Transportes de Kassab. Até o início de 2010, Moraes era tido como virtual candidato à sucessão do prefeito, mas desgastes em projetos de transporte público acabaram desgastando o então "supersecretário". Ele deixou a Prefeitura em junho de 2010.

No diretório estadual, o DEM caminha para escolher o deputado Jorge Tadeu Mudalen. O nome dele também é citado como possível secretário-geral. Garcia era cotado para a regional paulistana, mas, na visão da cúpula do DEM, a proximidade dele com Kassab, de quem foi secretário na Prefeitura, faria com que o diretório continuasse sob influência do prefeito paulista.

Insistência. Alckmin chegou a pedir ao vice para que ele permanecesse no DEM. Afif, no entanto, teria alegado um "compromisso" de acompanhar Kassab. No Palácio dos Bandeirantes, o gesto foi entendido como um rompimento, pois Kassab já anunciou a disposição de lançar um candidato à sucessão. Para aliados de Alckmin, a única possibilidade de Kassab apoiar o PSDB é se José Serra, padrinho político do prefeito, for o candidato em 2012.


Fonte: Alberto Bombig, Iuri Pitta e Malu Delgado - O Estado de S. Paulo

Comentários