Apesar de certa, volta de Delúbio constrange petistas


Membros da Executiva, como Patrus Ananias e Tarso Genro, vão faltar à reunião em protesto; ex-tesoureiro foi expulso em 2005

Expulso do PT há cinco anos e meio, no rastro do escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro Delúbio Soares será anistiado pelo partido no fim de semana. Delúbio protocolou nesta quinta-feira, 28, em reunião da Executiva Nacional, o pedido de refiliação, que deve passar nesta sexta-feira, 29, pelo crivo do Diretório petista. "Venho aqui, com humildade, pedir o meu retorno ao PT. Quero voltar a ser militante do partido", disse Delúbio, na reunião desta quinta.

O processo de reabilitação do tesoureiro provocou reações no PT. Secretário de Finanças durante mais de três anos, ele conta com o apoio de pelo menos 59 dos 84 integrantes do Diretório.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende o retorno de Delúbio, seu amigo há 30 anos, mas chegou a manifestar receio de que a anistia, agora, contaminasse o processo dos réus do mensalão.

Julgamento. "A partir do momento em que houver a reintegração (de Delúbio), esse tema voltará à tona e, com a repercussão, a possibilidade de interferência no julgamento é grande", concordou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), numa referência ao julgamento do caso, previsto para 2012. "De qualquer forma, não houve condenação formal e o partido não pode manter uma pena ad aeternum."

Embora as correntes que detêm o controle no PT estejam dispostas a reabilitar o ex-tesoureiro, sua volta já provoca protestos. O ex-ministro Patrus Ananias, o governador Tarso Genro (RS) e o senador Delcídio Amaral (MS) são integrantes do Diretório Nacional, mas faltarão à reunião desta sexta e sábado por discordar do perdão a Delúbio.

Na carta que enviou ontem à Executiva, o ex-tesoureiro lembrou que nunca foi filiado a outro partido. "Sou PT de formação e de coração", escreveu. Acusado de recolher R$ 55 milhões em "recursos não contabilizados" na campanha presidencial de 2002, Delúbio foi expulso por gestão temerária, mas disse não guardar mágoa de seus pares. Na prática, receberá a anistia por ter ficado em silêncio desde a maior crise que atingiu o governo Lula e dizimou a cúpula do PT.

Desgaste. É a segunda vez que Delúbio tenta retornar ao PT após sua expulsão, em outubro de 2005. Em abril de 2009, ele encaminhou pedido para a reintegração, mas foi obrigado a desistir, para não atrapalhar a pré-campanha de Dilma Rousseff. Na ocasião, disse que vivia um "calvário" pessoal. "Por que 2011 se o Delúbio de hoje é o Delúbio de 1980 e será o Delúbio de amanhã?", protestou na época, batendo na tecla de que todos os políticos fazem caixa dois. No início do mês, um relatório da Polícia Federal apontou uso de dinheiro público no mensalão.

Mesmo tendo apoio de mais de 60% dos petistas, Delúbio enfrentará resistência de grupos como Mensagem ao Partido - do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) - e Articulação de Esquerda, que prometem se opor à anistia. "Desde a crise de 2005, o PT vem reconstruindo sua unidade e essa refiliação só trará desgaste", afirmou Carlos Árabe, secretário de Formação Política do PT. "Há um processo em curso no Supremo e o partido sequer tomou posição sobre isso."

Professor. Em 2010, Delúbio foi condenado por improbidade administrativa pelo Tribunal de Justiça de Goiás, acusado de fraudar declarações para continuar recebendo salário como professor da rede pública, apesar de não dar aulas há mais de dez anos.

De volta ao PT, ele será reabilitado na cena política, mas, por causa da condenação, deve ser barrado pela Lei da Ficha Limpa caso tente participar das eleições de 2012.

Fonte: Vera Rosa - O Estado de S.Paulo


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