A música sempre vence - Artigo de Andrea Matarazzo


Foi emocionante ver o desfile da Vai-Vai no Carnaval, homenageando o maestro João Carlos Martins. Além da bonita história de superação que a escola de samba contou com maestria no Sambódromo, é sempre uma felicidade ver a música clássica como tema em pleno Carnaval. É mais uma prova que as culturas popular e erudita estão interligadas e não são excludentes, como pensam alguns. Música de qualidade está acima de ritmos, estilos e até de gostos pessoais.

Vi isso nos concertos do pianista Marcelo Bratke, que promovemos por meio da Secretaria da Cultura nas penitenciárias do estado. Antes de tocar obras de Bach, Villa-Lobos e Tom Jobim, ele conta um pouco da biografia dos artistas e contextualiza cada melodia para uma platéia  pouco acostumada à música erudita. Mas os aplausos, os sorrisos e as lágrimas depois de cada apresentação mostram que - como diz o maestro que eternizou o samba da Vai-Vai - "a música venceu".


João Carlos Martins construiu brilhante carreira como pianista, movido pela paixão pela música clássica e por Bach. Mesmo após as fatalidades que o impediram de tocar piano, não consegui ficar longe da musica e tornou-se maestro. No Sambódromo não segurou as lágrimas ao ver o nome de Bach ser cantado no mais brasileiro dos ritmos. Também regeu a bateria da Vai-Vai, mostrando que clássico e popular convivem em harmonia.

Há cinco anos, João Carlos Martins criou a Fundação Bachiana, que apresenta música clássica para jovens carentes. Encontrou espaço para o erudito nas periferias, onde o funk, o sertanejo e o pagode são predominantes. Com o mesmo objetivo, o governo de São Paulo mantém há 15 anos o Projeto Guri, ensinando música para mais de 50 mil crianças no estado. Para conquistar novos públicos, a música clássica tem que ser levada onde nunca esteve. O caminho para democratização da cultura é facilitar, cada vez mais, o acesso de todos.

Andrea Matarazzo é Secretário da Cultura de São Paulo

Fonte: Diário de S.Paulo

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