Escândalo no Ministério do Esporte: ONG recebe R$ 4,2 mi e abandona núcleos



Famepi, no Piauí, tem entre seus dirigentes 9 integrantes do comando regional do PC do B

No Piauí, a logomarca do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, está estampada em muros de núcleos improvisados com tijolos e bambus. Alguns desses núcleos estão abandonados, cheios de detritos, mas têm algo em comum: apesar da precariedade, são controlados pela Federação das Associações dos Moradores do Piauí (Famepi), subordinada ao PC do B.

Dida Sampaio/AE - Meninos de Areias, bairro de Teresina, jogam descalços na quadra de um dos ‘núcleos’ esportivos

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A entidade tem um contrato de R$ 4,2 milhões com o governo federal, sem licitação, para montar 126 núcleos e beneficiar 12 mil crianças.

Seu presidente é Raimundo Mendes da Rocha, dirigente do PC do B no Piauí. Pelo menos nove integrantes da direção da federação fazem parte do comando regional do partido. Essas pessoas são designadas para coordenar o Segundo Tempo nos bairros cadastrados no Ministério do Esporte. E todas trabalharam em 2010 pela reeleição do deputado federal Osmar Júnior, presidente regional do PC do B, líder do partido na Câmara e aliado do ministro Orlando Silva.

Entre os lugares cadastrados para receber o Segundo Tempo está o bairro de Areias, região pobre de Teresina. O núcleo é identificado pela logomarca pintada num muro encoberto pelo mato. Do lado de dentro, o cenário revela como é o Segundo Tempo no Piauí. O que é chamado de núcleo é um terreno baldio, nos fundos de uma creche, em meio ao mato alto e alguns pés de manga. Um trecho com cimento a céu aberto virou quadra, onde as crianças improvisam tijolos como trave de futebol e bambus para pendurar a rede de vôlei.

Como o projeto não fornece tênis nem chuteiras, muitos dos meninos jogam descalços. É o caso do estudante Antônio Emerson dos Santos, 12 anos, que recebeu apenas uma camiseta e um calção da Famepi. "É uma completa desorganização", reclama Maria do Socorro Vieira, mãe de Larissa Matielli, 13 anos, aluna do projeto.

A 80 quilômetros de Teresina, na cidade de Campo Maior, a situação é ainda pior. Oficialmente, quatro núcleos estão registrados. Nos endereços oficiais, dois não existem. Outros dois funcionam num clube abandonado, onde o teto da quadra caiu. O clube fica nos fundos de um bar, cujo letreiro divide espaço com o logotipo do Segundo Tempo.

Lá é servida a merenda do projeto - apenas bolachas. "É que falta freezer para armazenar os frios", explica Francisca da Chagas Sousa, que coordena o projeto. Ela é dirigente da Famepi e do PC do B do Piauí. A Famepi registrou, em Mocambinho, outro bairro de Teresina, um núcleo do Segundo Tempo com o suposto cadastro de 100 crianças. O projeto nunca funcionou no local.

‘Apartidária’. O presidente da Famepi, Raimundo Mendes da Rocha, filiado ao PC do B, negou o favorecimento do partido. "A Famepi é apartidária. As associações beneficiadas são ligadas à Famepi", disse. Ele responsabilizou o modelo financeiro do Ministério pelas dificuldades. "O programa não tem recursos para construir quadras e utiliza o que está disponível."

Rocha admitiu que crianças jogam com pés descalços. "É uma pena, porque elas reclamam. Queremos sanar essa questão porque jogar numa quadra com pé descalço não é fácil, é ruim."

Jogo duro
Maria Viera - Mãe de criança do projeto

‘É uma completa desorganização’

Raimundo Rocha - Presidente da Famepi

‘É uma pena. Jogar numa quadra descalço não é fácil, é ruim’


Fonte: Leandro Colon - O Estado de S.Paulo

Comentários

  1. Anônimo2/5/11 19:20

    Em Se tratando de irregularidades, fraudes e escandalos cometidas por políticos do PC do B, a sociedade brasileira não considera mais, nenhuma novidade. É preciso criar mecanismos mais eficientes para acompanhar e fiscalizar a utilização dos recursos destinados a tais programas esportivos, com fins de INCLUSÃO SOCIAL. A tipo de sugestão, seria interessante reavaliar todos os projetos municipais financiados pelo Ministério do Esporte, a começar pelas cidades, cujos SECRETÁRIOS DE ESPORTE pertençam ao PC do B, pois tem muita gente que se diz amigo do Ministro, mas, que na verdade, aproveitam-se da aproximação que tem com ele, para fraudar e roubar os recursos que deveriam ser revertidos para a comunidade em forma de PROJETOS SÓCIO-ESPORTIVOS. Quer mais uma sugestão? Comece por Fortaleza e Juazeiro do Norte, ambas no Ceará, pois não sabemos o que é que tais gestores, estão fazendo com os recursos destinados ao nosso tão sofrido ESPORTE BRASILEIRO.

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