No Residencial Nova Conceição, em Feira de Santana, comércio ilegal de apartamentos e abandono das unidades por falta de pagamento das prestações de R$ 50 põem em xeque o programa xodó da presidente Dilma Rousseff
Apenas seis meses depois de
entregues as chaves, o primeiro empreendimento do Programa Minha Casa,
Minha Vida para famílias de baixa renda tornou-se uma espécie de
assentamento urbano com comércio ilegal de apartamentos e abandono dos
imóveis por falta de pagamento das prestações de R$ 50, colocando em
xeque o programa xodó da presidente Dilma Rousseff.
Dilma usou feira de santana em programa eleitoral
O Residencial Nova Conceição, em Feira de Santana (BA), foi o
primeiro empreendimento para famílias com renda de até R$ 1.395 entregue
no País e recebeu duas visitas do então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Na campanha presidencial, Dilma levou ao ar no horário eleitoral
gratuito o condomínio como exemplo bem-sucedido de política pública para
os mais pobres.
De lá para cá, desligadas as câmeras da campanha, o "condomínio"
apresenta personagens com dramas reais. O presidente da Associação de
Moradores do Residencial Nova Conceição, Edson dos Santos Marques, 27
anos, diz que o calote tem aumentado no empreendimento porque boa parte
dos moradores tem como renda apenas o benefício do Bolsa Família.
De acordo com ele e com entrevistas realizadas pelo Estado, das 440
unidades do residencial distribuídas em 22 blocos, 50 já foram
ilegalmente negociadas pelos ocupantes de direito, escolhidos pela
Prefeitura de Feira de Santana em parceria com a Caixa Econômica
Federal. Eram pessoas que tiveram as casas condenadas depois da enchente
que atingiu o bairro periférico de Feira X, a cerca de dez quilômetros
dali, em 2007.
"Houve quem vendesse a unidade a R$ 500, antes de receber as chaves",
conta Marques. Em média, cada apartamento tem 37 m², dois quartos,
cozinha e banheiro. "Hoje, os valores estão por volta de R$ 15 mil."
Como rege a lei da oferta e da procura e há demanda para as unidades, os
preços dos apartamentos estão subindo.
Contas
Para Anália Barbosa dos Santos, de 62 anos, a entrega das chaves do
apartamento 2, do bloco 16, depois da visita presidencial e da então
candidata parecia encerrar uma vida de necessidades. Agora, ela pensa em
se mudar. "Tenho dificuldades para pagar todas as contas que chegam",
conta a idosa, que sonha comprar uma casa no bairro de origem com o
dinheiro da venda.
A inadimplência já preocupa a Caixa. Isso porque, a entrega do
empreendimento é recente e há o temor de que essa situação se repita em
outros locais.
Com a "expulsão" dos beneficiários originais, o residencial que era
para ser destinado, principalmente, aos inscritos no Bolsa Família que
moravam em áreas de risco está sendo "colonizado" por famílias com renda
familiar superior.
Mãe solteira de três crianças, Cristiane Lopes, 30 anos, deixou de
pagar, há quatro meses, as parcelas da casa própria à Caixa.
Desempregada, ela conta apenas com a renda de R$ 134 do Bolsa Família
para manter a casa. "Paguei as duas primeiras parcelas com R$ 100 que
ganhei da minha tia. Depois não consegui pagar mais", lamentou
Cristiane. Ela já recebeu cartas da Caixa cobrando o débito e teme
perder o imóvel por inadimplência.
Lançado por Lula em 2009, o Minha Casa, Minha Vida foi um dos
principais trunfos de Dilma na campanha. Na ocasião, ela prometeu
entregar 2 milhões de moradias para famílias com renda de até R$ 4.650
até 2014.
O objetivo do programa é reduzir o déficit habitacional no País, que é
de quase 6 milhões de moradias - concentrado entre as famílias que
recebem até um salário mínimo. Mas quando foi lançado, o Minha Casa,
Minha Vida também serviu de estímulo econômico em momento em que o País
sentia os efeitos da maior crise financeira dos últimos 80 anos.
De abril de 2009 a dezembro de 2010, a Caixa assinou 1 milhão de
contratos, como era esperado. O número de imóveis entregues, no entanto,
não chegou a 300 mil unidades. A expectativa é de que as entregas se
acelerassem no decorrer de 2010. Isso porque, um empreendimento demora,
em média, 18 meses para ser construído.
Comentários
Postar um comentário