Ainda sem canal de negociação com o governo Dilma
Rousseff, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) decidiu
antecipar as invasões pelo país, normalmente programadas para o chamado
Abril Vermelho, quando uma onda de ocupações é organizada como protesto
às mortes ocorridas em 1996 em Eldorado do Carajás, no Pará. Desde o
último dia 3, primeiro dia útil da gestão de Dilma, o MST tem invadido
fazendas e prédios públicos ligados à reforma agrária, em São Paulo,
além de prefeituras na Bahia, num período caracterizado como "janeiro
quente".
Dirigentes do movimento dizem que a retomada das ocupações é uma obrigação e não depende de quem está no poder.
- O MST é autônomo em relação a qualquer governo, e esperamos que
essas ocupações reforcem a abertura de um diálogo - disse Delweck
Matheus, um dos coordenadores do MST no Pontal do Paranapanema, região
onde os sem-terra criaram um movimento dissidente, ligado a José Rainha
Júnior.
- É uma obrigação do MST lutar pela terra e colocar a reforma agrária na pauta também do novo governo - disse.
Número de famílias assentadas cai 44%
A ideia é
não perder tempo na negociação com o governo . Estudo da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) mostra uma redução de 44% do número de famílias
assentadas em 2010 no país em relação ao ano anterior, além da
diminuição de 72% do volume de hectares destinadas às famílias sem
terra. "A realidade é que a promessa do presidente Lula de fazer a
reforma agrária com uma canetada não foi cumprida", diz texto da CPT.
Até esta segunda-feira, a mobilização do MST envolvia apenas São
Paulo e Bahia, mas o movimento já estaria articulando ocupações em todo o
país para os próximos dias. Os primeiros passos foram dados em São
Paulo, quando três propriedades particulares foram invadidas. Os
sem-terra ocuparam as fazendas Rancho Alegre, em Castilho; Bertazoni, em
Cafelândia; e Martinópolis, em Serrana.
Na semana passada, cerca de 200 pessoas acamparam na entrada do
Instituto de Terra de São Paulo (Itesp), em Presidente Prudente. A
preocupação com uma possível onda de violência no campo fez com que o
governo de São Paulo já se antecipasse na busca de uma solução.
- A onda já começou, e o temor não é só invasão, mas também os
desdobramentos que possam ocorrer. Se os donos dessas áreas resolvem
revidar, isso pode gerar risco para as pessoas envolvidas. Sejam os
fazendeiros ou os integrantes do movimento - disse nesta segunda-feira
Eloisa Arruda, secretária de Justiça de São Paulo.
Ela se reúne nesta terça-feira com líderes do MST em São Paulo.
- Como estou assumindo agora, quero que me conheçam - disse Eloisa, num movimento criticado pelos ruralistas.
- É inaceitável que o governo chame para o diálogo quem está fora
da lei - reclamou o presidente da União Democrática Ruralista (UDR),
Luiz Antonio Nabhan Garcia, que teme o risco de enfrentamento. - O dono
da terra tem o direito legítimo de defender sua propriedade. O problema é
que pode acontecer fatalidades.
A secretária de Justiça reagiu às crítica do ruralista:
- Nós queremos ouvir as pessoas e buscar soluções que sejam boas
para todos, e assim evitar situações de risco. Também marquei uma
reunião com os ruralistas para quinta-feira.
A secretaria lembrou que a questão da ocupação de terra não é
assunto de competência do estado, mas do governo federal. Ainda assim,
ela diz que está disposta a tentar apaziguar os ânimos na disputa de
terra.
Fonte: Flávio Freire e Sérgio Roxo - O Globo
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