Ministério da Cultura paga R$ 1 milhão por salas que não ocupa em Brasília




Imagem de um dos andares vazios no prédio alugado pelo Minc em Brasília/Foto: Aílton de FreitasO silêncio impera em seis andares de um novíssimo centro comercial de Brasília. Ali, deveriam funcionar repartições do Ministério da Cultura e da Fundação Palmares, mas as salas estão vazias. Mesmo assim, desde 19 de julho de 2010, quando o contrato de locação foi assinado, o MinC já desembolsou R$ 1,43 milhão a quatro incorporadoras para usar oito andares. Segundo o contrato, ao qual o GLOBO teve acesso, a nova estrutura deveria ter começado a ser ocupada em julho e estaria operando a pleno vapor em novembro. Mas, até a última quinta-feira, o cenário era de abandono e só dois pavimentos estavam precariamente ocupados.
O contrato firmado entre o Ministério da Cultura e o grupo de quatro empresas da família Sarkis, que respondem pelo Parque Cidade Corporate, reza que o órgão do governo deveria ocupar entre julho e setembro de 2010 o 10º, o 11º e o 12º andares. Em outubro, de oito pavimentos locados, só o sétimo não precisaria estar ocupado. Por pavimento, a União paga R$ 196 mil, e os proprietários devem receber R$ 1,56 milhão de aluguel, contados a partir de novembro. Contabilizando os custos contratualmente previstos, descontadas as despesas do final de julho de 2010 e deste mês, o débito já chega a R$ 5,684 milhões.
Às 17h da última quinta-feira, O GLOBO percorreu os oito andares alugados pelo Ministério da Cultura para receber parte da estrutura da pasta, além das instalações da Fundação Palmares. Em quatro andares (7º , 8º, 9º e 12º) nada havia, a não ser um volume tremendo de peças de mobília para escritório esparramado pelo chão. Nenhum trabalhador foi visto por lá. No 1º e 2º pisos, corredores vazios, salas montadas e portas trancadas, até onde deveria funcionar a auditoria da Fundação Palmares.
Em novembro, um chefe de serviço designado pelo MinC se negou a atestar faturas do pagamento do aluguel porque o prédio estava vazio. Além de não usar o patrimônio cedido à União, o ministério ainda corre o risco de pagar multa e correção monetária. Em conversa gravada, um dos proprietários do Parque Cidade Corporate, Wagner Sarkis, afirma que a União tem uma "certa inadimplência".
- Há certa inadimplência. O valor está previsto no contrato. Existe só o contrato. O que está lá é o que tem que ser cumprido - disse Sarkis, dono da Estrutural Empreendimentos LTDA.
Apesar da constatação documentada de seis andares inoperantes, o MinC afirmou, por escrito, que cinco pavimentos estão ocupados e que o único restante entrará em operação este mês. Entretanto, reconhece que houve atraso na transferência dos servidores, "gerando despesas de ocupação". Argumenta que o atraso ocorreu porque só em 28 de novembro foi liberado o crédito suplementar para "recompor a programação orçamentária", após inundação e alagamento das dependências do órgão no prédio Elcy Meirelles, também em Brasília. Esses recursos teriam sido usados para a contratação de "infraestrutura e de serviços". O MinC admite que houve atraso nos pagamentos. Porém, assegura que honrou os compromissos até novembro. 

Fonte: Roberto Maltchik - O Globo

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