Ao menos 115 mil moradores da capital vivem em 29 mil imóveis que
podem desabar em até um ano. É uma das conclusões do relatório feito
pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) a pedido da Prefeitura. O
documento, concluído em outubro, tem sido mantido em sigilo pela gestão
Gilberto Kassab (DEM) desde então.
Esses imóveis foram classificados como sendo de risco “alto” ou
“muito alto”. Isso significa que “mantidas as condições existentes, é
perfeitamente possível a ocorrência de eventos destrutivos durante
chuvas intensas e prolongadas, no período de um ano”, segundo o IPT.
O estudo identificou 407 áreas de risco na capital, onde viveriam, no
total, cerca de 134 mil famílias, segundo a Prefeitura. Além das 29 mil
casas em áreas de “alto” ou “muito alto” risco, há outras 105 mil em
regiões classificadas com risco “reduzido”. A assessoria de imprensa da
Prefeitura disse que administração municipal deve apresentar “na semana
que vem” um plano para a remoção dessas famílias. No mesmo prazo, a
Prefeitura promete divulgar o laudo completo do IPT e as propostas
detalhadas.
O maior número de locais sujeitos a tragédias está na zona sul, onde
foram identificadas 176 áreas de risco. Uma das moradoras nessa situação
é a vendedora Aurenita Maciel da Cunha Silva, de 43 anos, do Jardim
Ângela, zona sul. Ela soube que vive em área de risco na semana
passada. Parte do morro que sustentava sua casa desabou na tempestade.
Agora, ela e seis vizinhos esperam a definição de uma bolsa-aluguel (de
R$ 300) para ir a um lugar seguro. “Vivo aqui desde março. A casa onde
eu morava era um porão, só tinha a porta. Na frente, tinha uma boca de
fumo, sempre tinha tiroteio. Essa aqui, é arejada, e mais segura. Estava
muito contente”, diz.
Sem saber se sua casa está ou não em área de risco, o aposentado José
Djalma dos Santos, de 57 anos, morador da Rua Fanny Heldy, em
Americanópolis, também na zona sul, mantém uma portinhola nos fundos da
casa que dá para o Córrego Zavuvus. Cinco pessoas já morreram em
decorrência de enchentes do córrego apenas neste verão. “Eu não quero
sair daqui. Quero é que a Prefeitura canalize o córrego, para resolver o
problema”. Um muro dos fundos desabou há cerca de cinco anos. “A gente
constrói de novo”, afirma.
Enquanto o laudo não se torna público – e responde quantos desses
imóveis estão em locais regularizados – o promotor Raul de Godoy Filho,
secretário executivo da Promotoria, pediu ontem à Prefeitura uma cópia
do estudo do IPT. Segundo Godoy Filho, o trabalho “poderá ajudar na
análise e nas providências a serem tomados pelo Ministério Público”.
A remoção não é suficiente para resolver o problema das moradias em
áreas de risco, segundo especialistas. “Tem que ficar bem claro para
onde essas famílias vão. Não pode acontecer de a Prefeitura dar o
dinheiro, e a família se mudar para outra área de risco”, opina o
professor de planejamento urbano da USP Nabil Bonduki.
Relatora da ONU para Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik
acredita em outras medidas. “A vida deles pode ser protegida no curto
prazo por sistemas de alerta e prevenção, enquanto não surge uma
alternativa sustentável de longo prazo”, afirma.
Fonte: BRUNO RIBEIRO e TIAGO DANTAS- JT
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