Entrevista do Senador Aloysio Nunes


"Sérgio Guerra cometeu um erro crasso", diz Aloysio Nunes (PSDB-SP), sobre abaixo-assinado para manutenção de comando do partido

A três dias de tomar posse como senador da República, o tucano Aloysio Nunes Ferreira, 65 anos, criticou o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, em função da articulação em favor de sua recondução à presidência do partido. A movimentação resultou nesta semana na elaboração de um abaixo-assinado em favor da manutenção de Guerra no cargo.

“Acho que um homem que tem a habilidade do Sérgio Guerra jamais poderia ter cometido esse erro. Ele cometeu um erro crasso”, disse Aloysio, em entrevista do iG por telefone, na manhã desta sexta-feira. O abaixo-assinado foi distribuído na reunião da bancada tucana na quarta-feira.


Homem forte do governo José Serra, Aloysio defendeu que o PSDB siga o cronograma elaborado no fim do ano passado para a montagem de sua nova Executiva Nacional: convenções municipais em março, estaduais em abril e encontro nacional do partido em maio.


O senador eleito não confirmou se Serra deseja candidatar-se à presidência do partido, mas disse que o ex-governador paulista merece fazer parte da direção do partido. Ao iG, ele também contou como deve ser a sua atuação no Congresso


Leia os trechos principais da entrevista:


iG: Como o senhor planeja fazer oposição?
Aloysio Nunes Ferreira: Oposição é oposição. Tem algo de intuitivo nisso, mas basicamente propor, buscar alternativas, criticar e denunciar quando for o caso. Enfim, mostrar para o País que você tem uma alternativa, propostas e ideias para os temas nacionais. Em algumas questões, é até possível um encaminhamento acima da divisão entre situação e oposição. Nesses casos, a gente precisa formular políticas de Estado que ultrapassem o limite de um mandato.


iG: O senhor se refere a reformas?
ANF: Não. Temas como Educação e Segurança Pública, que exigem uma mobilização muito ampla. É preciso envolver governadores, prefeitos, Congresso. Esses temas (Segurança Pública e Educação) merecem um pacto nacional para enfrentá-los com um política duradoura, que vai além de um mandato. Como aconteceu com a ideia da Lei de Responsabilidade Fiscal. Hoje não tem mais discussão. Ninguém contesta mais.


iG: É mais fácil fazer oposição no Congresso do que por meio de governos estaduais?
ANF: Claro. Tem de haver uma relação absolutamente institucional. Como nós fizemos em São Paulo. Nós temos um relacionamento absolutamente correto com os prefeitos de todos os partidos e assim como tivemos no governo federal no tempo do (ex-presidente) Lula. Você tem também um efeito de um política sobre outra. Na medida em que a oposição se faz respeitada pela firmeza das suas posições, isso ajuda e dá força aos governadores de Estado em seu relacionamento com o Executivo.


iG: No que se refere à reorganização da oposição, é o momento de se discutir o comando do PSDB?
ANF: Acho que não tem relação. Exatamente por isso acho lamento entrarmos nessa discussão agora. Embora tenhamos perdido a eleição, conquistamos 45% do total de votos. Embora essa força seja mal distribuída no País, tendo em vista que o nosso desempenho no Nordeste foi muito ruim. Temos de discutir o papel da oposição no Congresso, nossa relação com os governadores, definir uma agenda do País. Então, em vez de discutir isso, se faz um abaixo-assinado deputados federais para a recondução ao comando do partido. Acho que um homem que tem a habilidade do Sérgio Guerra jamais poderia ter cometido esse erro. Ele cometeu um erro crasso.


iG: É ruim começar a organizar a oposição desta forma?
ANF: Eu acho péssimo. E é péssimo que tenha sido promovido pelo presidente do partido.


iG: O ex-governador José Serra é candidato a presidente do PSDB?
ANF: Ele não me disse. Mas é claro que ele tem de estar presente na direção do partido. É um quadro importante do PSDB, como é o presidente Fernando Henrique Cardoso.


iG: O que o senhor propõe para tentar resolver essa situação?
ANF: Acho que temos de seguir o calendário do partido (convenções municipais em março, estaduais em abril e nacional em maio). Precisamos promover um amplo debate que escolha uma maioria em torno de um certo número de idéias. De modo que seja escolhida uma direção partidária capaz de implementar essas propostas como se faz qualquer partido civilizado.


iG: O governador Geraldo Alckmin pode ajudá-lo? Acredita que ele pode ser uma opção do PSDB para a disputa da presidência da República em 2014?
ANF: Acho que pode e deve. Ele vai fazer isso. Acho que antes de escolher um candidato o partido precisa demonstrar como vai se organizar, o que vai propor para o País.

Fonte: Adriano Ceolin, iG Brasília 

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