Alckmin diz que vai ajudar Dilma, mas vê um PSDB 'fiscalizador'
Pela terceira vez no cargo, governador prega uma oposição que analise a gestão da nova presidente 'área por área' e quer fazer gestão 'social' no Estado para rivalizar com PT
A mudança mais visível no gabinete do governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em relação à gestão de seus antecessores
diretos no Palácio dos Bandeirantes - José Serra e Alberto Goldman - foi
a instalação de um retrato pintado a óleo por Antonio Rocco, na década
de 1910, com a imagem de Rodrigues Alves sentado em frente à sua mesa de
trabalho. Alves, nascido em Guaratinguetá (SP), terra natal da família
de Alckmin, foi o último paulista a assumir a Presidência, em 1902.
O tucano diverte-se ao contar a história do ex-governador e
ex-presidente, mas se esquiva sobre a disputa presidencial de 2014 e
sobre tentar novamente ser o próximo paulista depois de Alves no comando
do País (Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio). Até lá, no entanto,
Alckmin enfocará a "questão social" em sua gestão, na busca de uma
"marca" do PSDB na área historicamente dominada pelo PT.
Seu novo foco tenta afastar as derrotas do PSDB para o PT nas
disputas pela Presidência em 2002 com José Serra, dele próprio em 2006 e
novamente em 2010 com Serra, nas quais o discurso social de Luiz Inácio
Lula da Silva fez a diferença.
Alckmin diz que seu partido deve fazer uma "oposição diferenciada" a
Dilma Rousseff, esquadrinhando área por área o governo federal. Porém,
recém-empossado à frente do Estado mais rico da União pela terceira vez
(já governou em 2001-2002 e 2003-2006), diz que será um "colaborador" da
nova presidente. "Quem é governo é para governar e não para fazer
oposição."
Após 16 anos de PSDB no Estado, o que esperar de novo?
Os princípios e valores não mudam. Esses são permanentes. Vêm desde
o Mário Covas. A austeridade, a transparência, a eficiência, a
prioridade ao social. O programa, este sim, muda, porque estamos em um
novo momento. E eu destacaria a absoluta questão no foco no ser humano,
na questão social.
O sr. iniciou o governo com corte de gastos. A máquina não está ajustada?
Eu recebi um governo em boa situação financeira, bem ajustado. O
José Serra (2007-2006) fez uma grande gestão em São Paulo e quero manter
o mesmo nível de investimento, que foi alto.
O Orçamento mostrou uma queda de 6,5% nos investimentos para 2011.
Porque foram vendidos ativos nestes últimos anos de R$ 16 bilhões.
Não tem ativos para vender. Para manter o investimento elevado que nós
queremos manter, temos de trabalhar pelo lado da despesa, procurando
fazer um ajuste. Esse é um trabalho interminável.
O sr. rechaçou o termo "auditoria" e disse que não haverá revisão de contratos. Mas secretários disseram que farão revisões.
Não tem nenhuma auditoria. Vamos procurar permanentemente ter uma
aplicação do recurso público. O governo gasta R$ 135 milhões de aluguel
por ano. E alguns aluguéis em áreas onde o valor é mais alto. O que eu
fiz quando fui governador? Vamos para o centro de São Paulo. Esse é um
exemplo, que vamos fazer em outras áreas. Temos hoje 172 mil presos no
Estado de São Paulo. Como podemos reduzir os custos de alimentação? Eles
(secretários Antonio Ferreira Pinto, da Segurança Pública, e Lourival
Gomes, da Administração Penitenciária) disseram: "Temos experiência do
governo Serra." Aqui na penitenciária do Estado, em vez de comprar a
quentinha da empresa lá fora, nós terceirizamos a cozinha que existe
dentro da unidade prisional. Conseguimos reduzir de R$ 9 para R$ 4,5 o
preço da refeição.
O ajuste que o sr. está fazendo não pode ser encarado como um revanchismo em relação a Serra?
Imagine. Experiências muito bem-sucedidas que Serra teve - dei um
exemplo, mas tem "n" exemplos - vamos fazer que elas se multipliquem
pelo Estado. Vamos fazer isso por convicção e por necessidade.
O sr. terá encontros com Vicente Falconi, do Instituto de
Desenvolvimento Gerencial, e com Antonio Anastasia, governador de Minas.
Pretende fazer um "choque de gestão", como o de Aécio Neves naquele
Estado?
Não tem nada a ver o encontro do Vicente Falconi (consultor próximo
do PSDB mineiro) com o Anastasia. Nós já tivemos um encontro dos oito
governadores do PSDB em Alagoas, lá em Maceió, com o Teotônio Vilela. O
PSDB tem hoje o maior número de governadores do País. Essa troca de
experiências entre nós é muito positiva. Essa troca de experiências pode
ser uma marca importante. O PSDB deve, cada vez mais, ter uma marca
social forte.
O sr. fala em gestão por metas. Pode dar um exemplo?
Precisamos ver toda ação do governo, ver o que ela vai beneficiar a
população. Especialmente a população mais pobre. Estamos fazendo um
trabalho que vai ser explicitado no Plano Plurianual para estabelecer as
nossas metas, o que nós queremos no final do mandato.
O secretário Paulo Barbosa (Assistência Social) disse que
vai procurar o Ministério do Desenvolvimento Social para mapear a
pobreza no Estado. Tem em vista mudança no programa de transferência de
renda?
Poderá ter. Nós queremos erradicar a pobreza extrema. Temos hoje
perto de 350 mil famílias, vamos falar aí de 1,2 milhão de pessoas.
Vamos identificar todas essas famílias e trabalhar com as prefeituras, o
governo do Estado, o governo federal, no sentido de erradicarmos a
miséria.
Os programas de transferência de renda podem aumentar?
Sim, se houver necessidade.
O PMDB, mesmo com apoio, ficou de fora do primeiro escalão do seu governo. Isso será reavaliado?
Quero destacar o quanto foi importante o apoio do PMDB no Estado de
São Paulo e a presença do Quércia foi muito decisiva para isso, porque o
PMDB acabou em nível nacional apoiando o PT e em nível estadual o PSDB.
Aliás o Quércia apoiou a mim e ao Serra. E ao Aloysio também para o
Senado. Foi uma pena a doença do Quércia, o partido ficou em uma espécie
de transição.
Já tem encontro marcado com a presidente Dilma Rousseff?
Não. Telefonei para a presidente Dilma após as eleições, tivemos
uma boa conversa. Estive na posse para os cumprimentos. Mas deixa ela
primeiro sentar na cadeira, tomar pé da situação, terminar a montagem do
governo. Em algumas semanas pretendo pedir uma audiência para uma
reunião de trabalho.
Qual o projeto político do sr. após o período à frente do governo paulista?
Meu projeto é fazer um bom governo, servir a população de São
Paulo, avançar mais ainda. Queria destacar também em relação ao PSDB a
importância de termos uma boa relação com o governo federal, e não há
nenhuma contradição nisso, quem é governo é para governar e não para
fazer oposição. Agora, os partidos políticos, numa democracia, quem
ganha governa, quem perde fiscaliza. Cabe ao PSDB esse papel importante
de oposição inteligente, propositiva. Entendo que pode ser o exemplo de
uma oposição diferenciada, analisar área por área do governo. Acho que o
PSDB foi bem, embora tenha diminuído o número de parlamentares, mas
cresceu o número de governadores.
Vê o PSDB de volta à Presidência?
Está muito longe, mas o partido sempre deve estar preparado para as grandes responsabilidades.
Destacaria um ponto de convergência com Dilma?
Ela terá de São Paulo toda colaboração. São Paulo é parceiro do
desenvolvimento brasileiro. Essa é a nova política. O fortalecimento do
espírito republicano. Separar bem as disputas eleitorais, que são
legítimas, das tarefas de governo.
Fonte: Roberto Almeida - O Estado de S.Paulo
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