Presidente eleita parece ter dado de ombros à Lei da Ficha Limpa
A presidente eleita concluiu hoje a indicação dos nomes que irão
compor seu ministério a partir do próximo dia 1º de janeiro. Noves fora a
brutal influência do presidente que sai – com Lula atuaram 13 dos
“novos” ministros, ou mais de um terço da “nova” equipe – o que mais
chama a atenção é o envolvimento dos escolhidos com denúncias e
escândalos. Dilma Rousseff parece ter dado de ombros à Lei da Ficha
Limpa.
Comecemos pelo andar de cima. Para o cargo mais poderoso da
estrutura, a chefia da Casa Civil, foi indicado Antonio Palocci,
defenestrado da gestão Lula depois de envolver-se em tenebrosos
episódios numa casa do Lago Sul brasiliense e, uma vez descoberto,
ordenar a violação do sigilo bancário do caseiro que o dedurara. Antes,
seu governo em Ribeirão Preto fora acusado de fraudar milionárias
licitações de coleta de lixo e até mesmo de compra de molho de tomate
para merenda escolar.
Descendo um pouco na hierarquia, mas ainda dentro do coração do
poder, Dilma escolheu Gilberto Carvalho para a Secretaria-Geral da
Presidência. Tendo ocupado por oito anos a chefia de gabinete de Lula,
em outubro Carvalho e o PT viraram réus num processo em que são acusados
de participar de uma quadrilha que cobrava propina de empresas de
transporte na prefeitura de Santo André (SP). O esquema, da época da
gestão do prefeito assassinado Celso Daniel, teria desviado R$ 5,3
milhões dos cofres públicos e seria o precursor do mensalão petista no
governo federal, segundo O Estado de S.Paulo.
A lista é longa. Inclui também o futuro ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Ele é alvo de ação
penal proposta no último dia 14 pelo Ministério Público de Minas Gerais.
Segundo a denúncia, publicada hoje nos jornais,
irregularidades em um programa de instalação de câmeras de vigilância
nas ruas de Belo Horizonte quando Pimentel era prefeito da cidade
causaram prejuízos de mais de R$ 5 milhões ao erário.
No rol dos enrolados em falcatruas também figura o futuro ministro da
Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Nas eleições de 2006, quando
foi candidato a governador de São Paulo, assessores diretos
dele envolveram-se na compra de um dossiê para supostamente incriminar
tucanos. O episódio ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”, como
a eles se referiu o presidente Lula, e terminou sem que nenhuma das
pessoas pilhadas pela Polícia Federal com um R$ 1,7 milhão em dinheiro
sujo fosse punida.
O “roçado de escândalos” – para usar uma impagável expressão do
ex-futuro ministro Ciro Gomes para se referir à aliança política que
elegeu Dilma – abriga também um dos indicados pelo PSB da família Gomes
para o novo governo: Fernando Bezerra Coelho, que ocupará a pasta de
Desenvolvimento Social. Ele é acusado
de ter orientado o pagamento de mesada a líderes comunitários em troca
de apoio político, quando era prefeito de Petrolina (PE).
Entre os que retornam ao governo sob as bênçãos de Lula e a
conivência da presidente eleita está Alfredo Nascimento. Ele é alvo de denúncia
da Procuradoria Regional Eleitoral do Amazonas por compra de votos nas
eleições de outubro, quando disputou e perdeu o governo do estado. Em
2006, quando se elegeu senador pelo PR, já fora objeto de outras
acusações de irregularidade, como falsificação fiscal, compra de votos e abuso do poder econômico.
Já outro que também retorna é Edison Lobão, que volta ao Ministério de Minas e Energia logo depois de O Globo
ter divulgado gravações que o envolvem com empresários suspeitos de
chefiar uma quadrilha de sonegadores de impostos no setor de
combustíveis no Rio. O filho do futuro ministro e seu suplente no
Senado, Edison Lobão Filho, também já fora denunciado por sonegação fiscal no Maranhão.
Para finalizar, a cereja do bolo também vem do Maranhão: o futuro ministro do Turismo, Pedro Novais, foi flagrado por O Estado de S.Paulo
apresentando notas fiscais de um motel para justificar despesas junto à
Câmara e ser reembolsado: R$ 2.156 foram gastos numa “festa com
bastante gente, uma comemoração, (…) vários casais, várias pessoas”,
segundo relato do jornal.
O que esperar de uma equipe ministerial com uma ficha corrida como esta? Veremos a partir de janeiro.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela (ITV)
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