Fernando Pessoa em Autopsicografia fez um verso
memorável e amplamente conhecido que, se aplicado à realidade
brasileira, cabe com perfeição à figura do presidente Luiz Inácio da
Silva: "O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a
fingir que é dor a dor que deveras sente."
O que Lula diz não se escreve como atestam as inúmeras declarações
desmentidas por atos e palavras dele mesmo. Portanto, não se deve
comprar pelo valor vendido a afirmação de que a volta às lides
eleitorais em 2014 é uma possibilidade real.
Outro dia mesmo Lula dizia o contrário: que a disputa de uma nova eleição presidencial estava fora de seus planos.
Em outra entrevista, logo depois da reeleição, o presidente anunciava
que iria "assar uns coelhinhos" em São Bernardo do Campo quando
deixasse o cargo dali a quatro anos.
Um ano e pouco depois afirmava que a candidatura presidencial de 2010
seria fruto de consenso entre o PT e os partidos aliados. Avisava
também que não anteciparia a escolha porque isso levaria à "queima" da
candidatura na fogueira das intrigas internas e dos ataques da oposição.
Dito isso, no início do ano seguinte, dois antes do ano eleitoral,
apelidou Dilma Rousseff de a "mãe do PAC", sacramentou a candidata de
forma autocrática e iniciou ali mesmo a campanha que ficaria marcada
como a mais longa da história.
O que Lula diz hoje pode ser diferente amanhã, a depender da
avaliação referida única e exclusivamente na conveniência dele sem que
sejam medidas as consequências no tocante às regras maiores da
democracia: o respeito à lei e a observância das oportunidades iguais
para as forças políticas representativas da sociedade.
Tanto pode se candidatar a presidente de novo, como pode concluir que
não vale a pena o risco de perder a eleição ou de não ter um terceiro
período melhor que os dois agora em vias de conclusão. Isso não se
saberá pelas palavras de Lula.
Valem muito mais as atitudes. E elas nestes oito últimos anos nos
informam que Lula vai pairar como uma sombra sobre o governo Dilma. Se
outros personagens, de governo e de oposição, aí incluída a presidente,
não souberam marcar suas posições e assumir seus papéis na política,
Lula o fará na condição de protagonista.
Seja como pré-candidato a presidente - que parece ser exatamente sua
pretensão ao acenar com a possibilidade, a fim de assegurar cobertura
permanente da imprensa - seja como ocupante do espaço deixado vazio para
que atue como bem lhe convier.
À francesa 1. Pensando bem, para Ciro Gomes o melhor negócio é ficar
fora do ministério. Pelo menos escapa de se explicar, ou precisar pedir
desculpas por ter chamado a aliança que elegeu Dilma de "roçado de
escândalos".
Ficaria como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e Mangabeira Unger. Um
se desculpou por ter cumprido seu dever de deputado de oposição na CPI
dos Correios (mensalão), para ser candidato. O outro, para ser ministro
pediu perdão por ter escrito que o governo Lula foi o mais corrupto da
história.
À francesa 2. Pensando mais um pouco, a melhor coisa que o presidente
do PT, José Eduardo Dutra, poderia fazer é desistir de ser senador na
vaga de Antônio Carlos Valadares, o titular que esnobou um ministério
tentando valorizar o passe para dar lugar ao suplente Dutra.
O petista evitaria o vexame de ser senador sem votos e ainda deixaria Valadares amargar o gosto de língua queimada.
Ação e reação. Haverá quem considere uma descortesia o bispo de
Limoeiro (CE), d. Manuel Edmilson da Cruz, ter recusado a comenda D.
Helder Câmara, oferecida pelo Senado, em protesto contra o recente
aumento nos salários dos parlamentares.
Ocorre que a iniciativa das afrontas tem sido do Parlamento, e se a sociedade não deixar isso claro seguirá sendo insultada.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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