O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou
ter sérias dificuldades para entender o que fala a presidente eleita,
Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao programa Manhattan Connection,
exibido ontem à noite pelo canal de TV por assinatura GNT, FHC ironizou a
petista e disse não ter "imaginação suficiente" para adivinhar o que
Dilma quer dizer quando começa algum raciocínio e não o conclui.
"Não, não entendo não, eu confesso a você que tenho uma série
dificuldade (para entendê-la)", afirmou. "É uma dificuldade minha, você
sabe que eu sou curto em inteligência. Às vezes eu não consigo, ela não
termina o raciocínio e eu não tenho imaginação suficiente para saber o
que ela iria dizer."
FHC disse que Dilma assumirá um País em condições muito melhores que
as que encontrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o sucedeu
no cargo. Na avaliação dele, o principal problema a ser enfrentado pela
presidente eleita é a questão fiscal. "A Dilma vai pegar uma economia em
bom momento, mas vai pegar uma situação fiscal bastante difícil também.
Os gastos públicos aumentaram muito e é difícil você aumentar mais o
imposto. Vai ter que ter algum ajuste."
Porém, o ex-presidente afirmou que não prevê um cenário pessimista
para Dilma e enalteceu as conquistas que o País obteve nos últimos anos,
principalmente durante seu governo (1995-2002). Ao falar de si mesmo,
FHC fez um autoelogio. "Eu mudei o Brasil, vamos dizer com clareza aqui,
sem falsa modéstia. O Brasil era um antes da consolidação da economia e
passou a ser outro", afirmou.
"Vamos ser francos, o Brasil está melhorando, está melhorando muito,
há muito tempo vem melhorando e vai melhorar mais. Depois que você põe
em movimento uma máquina, você começa a pedalar e ela vai. Não sou
pessimista nesse sentido, mas acho que ela (Dilma) vai ter que fazer
alguns ajustes", afirmou.
FHC também aproveitou para criticar o presidente Lula. "O ano em que
ele (Lula) pegou (assumiu o governo) piorou por causa dele, por causa do
medo que os mercados tinham do que ele dizia que iria fazer e que, para
a sorte de todos nós, não fez."
Dossiê
O tucano condenou a montagem de um dossiê sobre seus gastos e os de
sua mulher, Ruth Cardoso (morta em 2008), durante sua gestão na
Presidência. O dossiê teria sido feito em 2008 pela então
secretária-executiva da Casa Civil Erenice Guerra a pedido da então
ministra Dilma, quando o Congresso manifestou interesse em investigar os
gastos do presidente Lula e de sua família com cartões corporativos.
"Realmente foi grave aquilo, porque ela (Dilma) telefonou pra a Ruth e
disse que não estava fazendo nada", afirmou. "Era simplesmente para
justificar os gastos que nunca foram explicados, até hoje, da primeira
parte do governo Lula. Inventaram que nós tínhamos gastos que não
tínhamos, não havia nem cartão corporativo, não havia nenhum gasto de
coisa nenhuma, mas fizeram aquela onda, aquele chantagem toda, foi
bastante desagradável."
FHC disse esperar que o ato não se repita durante o governo Dilma.
"Mas se quiserem fazer espionagem da minha vida podem fazer à vontade,
não tenho nada para esconder, mas espero que não", afirmou. "Eu digo não
é o procedimento correto ficar fazendo dossiê." A entrevista com FHC
foi a última do programa Manhattan Connection na GNT, que disponibilizou
alguns trechos em seu site na internet.
Fonte: ANNE WARTH - Agência Estado
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