Ex-presidente alfineta sucessor e diz que ele está se metendo demais nas escolhas da eleita
À medida que o atual governo chega ao fim , a velha
polêmica entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando
Henrique Cardoso sobre a arte de bem governar vai dando lugar a uma
outra - a arte de ser ex-presidente. Numa homenagem a Ruth Cardoso,
ontem de manhã em São Paulo, FHC alfinetou Lula por estar interferindo
demais na formação da equipe da presidente eleita Dilma Rousseff: "O
presidente Lula sempre dizia que eu me metia demais na política depois
da Presidência. Agora é ele quem está se metendo demais", disse ele em
tom de desafio, ao participar da inauguração do Orquidário Professora
Ruth Cardoso, no Parque Villa-Lobos.
Na cerimônia, pilotada pelo governador Alberto Goldman, o
ex-presidente ficou emocionado mas não perdeu a verve. "Se o presidente
Lula abusar, cabe a Dilma controlar. Mas esse é o temperamento do Lula.
Ele critica os outros e faz a mesma coisa".
FHC evitou dar conselhos ao presidente, mas não se furtou a relatar
sua experiência como ex-presidente. "O Lula me deu tantos conselhos que
acho melhor não dar nenhum. Não quero me meter a ser conselheiro do rei e
nem do antigo rei, não é meu papel". Feita a ponderação, passou a
rememorar lições que aprendeu pelo caminho. Por exemplo, a viagem à
Europa que fez, com Ruth, assim que deixou a Presidência. "Uma viagem
sem assessor, sem seguranças e sem automóvel, sem nada. Você agora é um
cidadão como os outros", recordou.
Mencionou também as vantagens que há em se deixar o Palácio do
Planalto e descer à planície. "Estou mais livre, posso andar sem gravata
entre o pessoal engravatado, o que deixa muito feliz". Mas provocou: "O
Lula também anda sem gravata, é verdade. Quem sabe, agora, ele use
fraque".
Sobre os nomes dos ministeriáveis da equipe de Dilma Rousseff, FHC
afirmou não ver nenhuma surpresa até agora. "O importante é: qual é o
programa, para onde é que a gente vai."
Fonte: ANNE WARTH - O Estado de S.Paulo
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