Indicação de médico foi retirada um dia antes da sabatina que ocorreria no Senado
Com a Esplanada sendo pouco a pouco loteada,
as agências entraram no radar fisiológico dos partidos. Depois de um
processo tumultuado de negociação e de pressões da própria bancada
governista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou a indicação
do médico Eduardo Costa para a direção da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). A decisão, publicada na edição de ontem do Diário
Oficial, ocorreu um dia antes da data marcada para sabatina do médico na
Comissão de Assuntos Sociais do Senado.
O desfecho de ontem não surpreendeu quem acompanhou o processo de
indicação feito há oito meses. Diretor do Instituto Tecnológico em
Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmanguinhos-Fiocruz), o médico
tinha apoio do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Um padrinho
fraco, diante das pressões vindas por todos os lados: de farmacêuticas
multinacionais, de petistas e do próprio PMDB que, diante das incertezas
para o titular da nova pasta da saúde, passou a olhar com carinho ainda
maior para o cargo.
O posto - que entre suas atribuições aprova e fiscaliza medicamentos e
produtos no País - representaria uma compensação diante das possíveis
perdas dentro do ministério. "Recebi a notícia enquanto preparava a
apresentação que seria feita no Senado", afirmou Costa ontem ao Estado.
"O que me deixou mais perplexo é que a data da sabatina foi marcada há
poucos dias. Depois de tanta espera, achei que o assunto estava
finalmente resolvido."
Voto contra
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) é apontado como um dos maiores
operadores para a retirada da indicação de Eduardo Costa. Na
segunda-feira, o parlamentar teria garantido no Planalto que, se
submetido à sabatina, o médico seria reprovado. Algo que o governo achou
melhor não testar.
A polêmica em torno da indicação do ex-diretor de Farmanguinhos para a
direção da Anvisa começou em abril, tão logo o nome foi anunciado.
Costa assumiria a vaga do petista Agnello Queiroz, que deixava o posto
para concorrer ao governo do Distrito Federal. Na ocasião, a expectativa
era a de que o auxiliar direto de Agnello, Rafael Aguiar, assumisse a
vaga como seu sucessor.
O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de
Regulação (Sinagências) também deixou claro seu descontentamento. Numa
nota, o sindicato lembrava que Costa havia afirmado que a Anvisa era
burocrática, lenta, pouco eficaz. O que provocou a ira dos servidores.
Apesar da onda desfavorável, Costa fez várias visitas a Brasília para
apressar sua sabatina. A impressão inicial era a de que, assim como
outros cargos de direção de agências reguladoras, a ideia era deixar
qualquer definição para depois das eleições. Com a vitória de Dilma
Rousseff, as pressões voltaram a ser feitas. Semana passada, Costa
imaginava que tinha conseguido vencer as resistências - que, no período
mais recente, ficou explícita também entre parlamentares do DEM. "Foi de
fato uma reviravolta. Mas agora, que todo esse processo desgastante
passou, vou voltar a tratar da vida."
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