Nessa fase complicada de partilha do latifúndio federal,
os dois principais partidos de sustentação do governo Dilma Rousseff
resolveram deixar de lado a disputa pelas presidências da Câmara e do
Senado.
Já que as eleições no Congresso só ocorrem em fevereiro, mas a formação do ministério se inicia assim que a presidente eleita voltar de Seul, PT e PMDB no momento dão prioridade à ocupação de espaços no Executivo.
Já que as eleições no Congresso só ocorrem em fevereiro, mas a formação do ministério se inicia assim que a presidente eleita voltar de Seul, PT e PMDB no momento dão prioridade à ocupação de espaços no Executivo.
Não significa que estejam despreocupados com a tomada do poder no Legislativo.
Apenas não brigam em público por isso. E talvez nem precisem vir a
brigar caso consigam se acertar entre si, uma vez que até onde a vista
alcança não é possível identificar partido, grupo ou parlamentar
pleiteando atrapalhar o jogo com outras candidaturas.
É comum que surjam candidatos avulsos ou que esse ou aquele partido
ensaie algum movimento de independência para negociar posição melhor
lugar na Mesa Diretora.
Mas o inesperado também acontece. Severino Cavalcanti durante anos
foi esse tipo de candidato: lançava candidatura para presidente para
ganhar uma segunda ou terceira secretaria. Assim foi até que o PT se
enrolou, a oposição e o baixo clero aproveitaram o ensejo e Severino
virou presidente da Câmara.
Desta vez, se não houver a visita do inusitado, PMDB presidirá o
Senado e o PT a Câmara. E quem admite isso são os pemedebistas que
embora façam de conta que sustentam a postulação do líder do partido,
Henrique Eduardo Alves, já admitem que não há razão para arrumar briga
com o PT por causa disso.
Inclusive porque os petistas têm a maior bancada da Câmara e, pelo
critério da tradição, começariam o rodízio acertado entre os dois
partidos deixando a presidência para o PMDB em 2013 e 2014. Quanto aos
candidatos petistas, não há consenso.
Por enquanto, Cândido Vaccarezza - um líder de governo com baixo grau
de credibilidade na Câmara e de confiabilidade no Planalto pelo número
de derrotas que acumulou em 2010 - concorre contra dois ex-presidentes
da Casa: Arlindo Chinaglia e João Paulo Cunha.
No Senado o PMDB avisa a quem interessar possa que não há a mais
remota possibilidade de vir a dar certo qualquer articulação em prol do
nome do senador eleito Aécio Neves, do PSDB.
Os pemedebistas têm as melhores relações com o ex-governador mineiro,
mas não abrem mão da presidência nem por decisão do papa. Aécio sabe
disso, tanto que já tratou de dizer que não postula o cargo.
O que corre nas internas do PMDB é que o atual presidente, José
Sarney, com todo o desgaste que enfrentou nos últimos dois anos e aos 80
anos de idade, adoraria ter mais um mandato.
Faz o jogo de sempre: diz que não quer para ver se, no fim, surge
como a "única" solução. Para não sucumbir ao peso das críticas,
incentiva Renan Calheiros a tentar a retomada da presidência, sabendo
perfeitamente bem que haverá reação contrária forte.
Sarney aposta também na falta de opções. Edison Lobão quer ser
ministro de Minas e Energia; há novatos, há inexpressivos, há
complicados, mas há Garibaldi Alves, que já cumpriu mandato tampão e é
cogitado como possível solução.
Troca na guarda. O mandato na presidência do PMDB do vice-presidente
eleito e também presidente da Câmara, Michel Temer, só termina em 2012,
mas ele deixará o posto em dezembro.
Quem conclui o mandato no PMDB é o senador Valdir Raupp, réu em ação
no Supremo Tribunal Federal por uso do dinheiro destinado ao Plano
Agropecuário e Florestal de Rondônia para saldar dívidas do Estado
quando era governador.
Na teoria Temer havia se licenciado da presidência do partido quando
assumiu a presidência da Câmara. Na prática, porém, a tese da
"incompatibilidade republicana" ficou só no discurso porque ele nunca se
afastou do posto, essencial para levá-lo a compor a chapa presidencial
com Dilma Rousseff.
Um dos possíveis candidatos à sucessão de Raupp daqui a dois anos
será Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional e deputado
cujo mandato expira em fevereiro.
Fonte: Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
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