Com um legado intangível não apenas para o samba, mas para a música
brasileira em geral, ele teve temas regravados por uma lista infindável
de artistas respeitados, como Elis Regina, Paulinho da Viola, Jair
Rodrigues, Nelson Gonçalves, Zeca Pagodinho, Eumir Deodato, Joel
Nascimento, Ney Matogrosso, Cazuza, Beth Carvalho, entre tantos outros.
Hoje ele tem muito mais reconhecimento do que em vida. Para se ter
uma ideia, durante um período de sua carreira, sempre com seus típicos
óculos escuros, praticamente anônimo, servia cafezinho no Ministério da
Indústria e Comércio. Viveu um período de ostracismo no meio da década
de 70, até voltar à tona com um sucesso arrebatador. "Em 74, ele estava
sumido, muita gente pensava que ele tinha morrido. Eu fui até o morro da
Mangueira, na casa dele, e perguntei se tinha músicas inéditas que eu
queria gravar. Ele me mostrou inéditas como As Rosas Não Falam, O Mundo É
Um Moinho e Corra e Olha o Céu. Eu gravei e logo depois saiu o disco
dele com esses sucessos. Tivemos uma relação de pai e filha. O Cartola
dizia que eu era a melhor intérprete das músicas dele", lembra Beth
Carvalho.
Outro a ter uma convivência estreita com o sambista, "de padrinho e
afilhado", foi o poeta, compositor e produtor Hermínio Bello de
Carvalho. "Eu o conheci em 1962 e vi o Zicartola nascer. Era uma
tentativa de amigos e admiradores de Carola e Zica de fazê-los sair da
pobreza em que viviam. Minha amizade com o casal se estreitou, e fui
convidado para ser o padrinho de casamento dos dois. Eu fui um ouvinte
privilegiado de algumas inéditas feitas por ele, como Acontece,
Autonomia, As Rosas Não Falam e O Mundo É Um Moinho", lembra o parceiro
de Cartola e Carlos Cachaça na antológica Alvorada.
"Quando ele morreu, Zica fez chegar às minhas mãos o "anel de
sambista" que Cartola sempre usava e deixou com a instrução de que me
fosse entregue. Hoje está, de empréstimo, na sede do Centro Cultural
Cartola", recorda Hermínio.
Aliás, foi ele quem levou Paulinho da Viola ao bar e o apresentou a
Cartola, em 1964. "Certa vez, em um programa de televisão, perguntaram a
ele quem poderia ser seu sucessor. Ele disse que era eu. Para mim, foi
uma honraria, não estou à altura de ser sucessor do Cartola. É voz
corrente que ele era uma pessoa especial, com toda a obra que deixou,
com muito lirismo e poesia. Eu agradeço muito ao Cartola por todo apoio,
generosidade e incentivo que me deu", diz Paulinho da Viola.
O círculo de amizades não parou por ali e foi também no Zicartola que
Paulinho conheceu Elton Medeiros, com quem faria belos sambas e que já
era parceiro de Cartola em temas imortalizados até hoje, como O Sol
Nascerá (A Sorrir) e Peito Vazio. "Eu me considero um aluno do Cartola.
Já que a vida é feita de música, ele me ensinou a viver. Aprendi muito
com ele, que deixou como legado o exemplo de como se construir uma
música brasileira de qualidade. Isso tudo o transformou em um imortal do
samba", diz Elton Medeiros.
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