Nem aposentadoria, nem a presidência do partido: PSDB quer colocar o ex-presidenciável à frente de centro de estudos e pesquisas
O PSDB já tem a fórmula para não entregar a
presidência nacional do partido ao candidato derrotado José Serra, nem
tampouco forçar a aposentadoria do expoente tucano, deixando-o sem
tribuna. Para preservar aquele que arrebanhou 43,7 milhões de votos e
valorizar o "racha" do eleitorado pela oposição, Serra deverá assumir a
presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV) de estudos e pesquisas do
PSDB.
Esta é a alternativa que os tucanos vislumbram para reservar a Serra
um espaço confortável na estrutura partidária, que lhe permita agir como
oposição tucana e não afronte as resistências à ideia de abrigá-lo na
presidência da legenda, como ocorreu depois da eleição de 2002.
O tucanato avalia que a saída tem múltiplas vantagens, a começar por
livrar Serra do título de "candidato derrotado", conferindo-lhe um posto
de "presidente" sem aprofundar o racha entre paulistas e mineiros
ligados ao senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG).
Além de ser um instituto que fica acima da legenda, o ITV tem a
vantagem de ser a única estrutura que tem recursos próprios, pois conta
com os repasses legais e obrigatórios do partido. No cargo de
presidente, Serra vai gerir um orçamento que este ano beirou os R$ 4
milhões, suficientes para contratar uma pequena equipe de assessores.
Mais que isso: no ITV, Serra terá mobilidade para viajar pelo País e
comandar a tal "refundação do PSDB" sugerida por Aécio, tarefa que
também poderá ocupar o presidente de honra Fernando Henrique Cardoso e o
ex-presidente da legenda Tasso Jereissati, que não conseguiu se
reeleger senador pelo Ceará.
Visibilidade
Parece muito pouco para o presidenciável que sete meses atrás
governava o Estado mais rico e mais populoso do Brasil, mas o partido
entende que o posto pode dar visibilidade a Serra no momento em que,
oito anos de governo Lula depois, os tucanos se propõem a defender a
gestão FHC (1995-2002) e o trabalho dos seus governadores e prefeitos em
Estados e cidades importantes do País.
Como atualmente o ITV é presidido pelo deputado serrista Luiz Paulo
Vellozo Lucas, que também foi derrotado na briga pelo governo do
Espírito Santo, os tucanos não veem dificuldade na substituição.
O deputado é economista de carreira do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e já comentou com
correligionários que quer voltar à instituição porque lhe faltam apenas
mais quatro anos - período em que ficará sem mandato eletivo - para se
aposentar.
Os estudos, pesquisas e análises de conjuntura semanais que o
instituto produziu nos últimos quatro anos foram de pouca utilidade e
praticamente nenhuma divulgação. Não interessava ao partido liderar um
debate de conteúdo com Serra estando à frente nas pesquisas de intenção
de voto. O PSDB preferiu focar no projeto eleitoral e o debate de
conteúdo na oposição ao governo e ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ficou interditado.
Os tucanos admitem que no debate do petróleo do pré-sal, por exemplo,
o PSDB se manteve escondido. O deputado Luiz Paulo ficou sozinho no
discurso em defesa do modelo de exploração herdado do governo Fernando
Henrique Cardoso. Agora, no entanto, os dirigentes nacionais da legenda
avaliam que foi um erro que não deve ser repetido, sob pena de, mais uma
vez, comprometer a candidatura presidencial tucana em 2014.
Fonte: Christiane Samarco - O Estado de S.Paulo
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