A Nobel da Paz iraniana, Shirin Ebadi, pediu neste domingo à presidente
eleita, Dilma Rousseff, que caso visite o Irã "não cubra a cabeça com um
véu", para defender os direitos das mulheres. A pacifista foi laureada
com o Nobel em 2003.
"Todas as mulheres, muçulmanas ou não, que chegam ao Irã têm que cobrir a
cabeça. Alguém tem que mostrar ao governo do Irã que esta lei não é
correta", afirmou Shirin em entrevista ao "Estado de São Paulo".
Dilma, que substituirá o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 1º
de janeiro, não antecipou como serão suas relações com o Irã, mas
precisou que tem "uma posição bem intransigente" em relação à defesa dos
direitos humanos.
Shirin também pediu à presidente eleita que converse com movimentos
independentes de mulheres iranianas, "não só com as que estão no
Parlamento", e criticou Lula por ignorar seus pedidos de defender os
oprimidos pelo regime islâmico.
"Lula visitou Teerã, abraçou o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad,
deu um beijo no rosto e foi embora. Parece que se esqueceu das pessoas
que morrem e são presas no Irã", assinalou.
A advogada e opositora iraniana lembrou o passado sindicalista do
presidente Lula e disse que lhe enviou "mensagens" para que se reunisse
com as famílias de trabalhadores iranianos presos pela relação com os
sindicatos.
"Quando Lula esteve no Irã, Mansour Osanlou, um líder sindical como ele,
já cumpria uma pena de cinco anos. A Organização Mundial do Trabalho
pediu sua libertação, mas Lula ignorou", acrescentou.
Recentemente o Brasil estreitou relações com o Irã e defendeu seu direito de desenvolver um programa nuclear com fins pacíficos.
Na sua visita a Teerã em maio, Lula e o primeiro-ministro turco, Recep
Tayyip Erdogan, assinaram um acordo com o Irã para a troca de urânio
destinado a seus reatores nucleares com fins científicos.
Este acordo foi rejeitado pelas potências nucleares, que acusam Teerã de
ocultar em seu programa civil outro clandestino, com objetivos
militares, com o qual pretende criar um arsenal de bombas atômicas.
Em setembro, a iraniana convocou todos os governantes do mundo a lutar
pelo fim das execuções por apedrejamento no Irã. "Além de Sakineh
Ashtiani, há outras que esperam a morte por apedrejamento. É preciso
salvar todas elas", afirmou Shirin.
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